O Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), em parceria com a FIA Business School, divulga suas projeções para o terceiro trimestre de 2025, revelando um cenário de crescimento tímido e extremamente heterogêneo no varejo nacional. Enquanto o Varejo Ampliado projeta expansão acumulada de 1,44% entre julho e setembro, o Varejo Restrito apresenta virtual estagnação com retração de 0,09%, evidenciando uma recuperação frágil e concentrada em poucos segmentos.
O destaque absoluto do período é o segmento de Tecidos, Vestuário e Calçados, que lidera com expressivos 5,35% de crescimento trimestral, impulsionado principalmente por uma forte alta de 5,65% em agosto. Este desempenho excepcional contrasta dramaticamente com a paralisia observada em diversos outros setores. Veículos, Combustíveis e Equipamentos de Escritório projetam variação zero para todo o trimestre, enquanto Alimentos e Bebidas também permanecem estagnados, sinalizando um consumidor extremamente cauteloso em suas decisões de compra.
Entre os segmentos que ainda apresentam crescimento positivo, destacam-se Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico com 1,94%, Artigos Farmacêuticos com expansão consistente de 1,10%, e Hipermercados com modesto avanço de 0,52%. No entanto, estes resultados positivos não conseguem compensar as retrações preocupantes observadas em outros setores importantes.
O segmento de Livros, Jornais e Papelaria enfrenta recorrentemente um verdadeiro colapso com queda projetada de 8,26% no trimestre, a maior retração entre todos os segmentos analisados. Esta queda dramática é acompanhada por retrações significativas em Móveis e Eletrodomésticos (-1,48%) e uma leve queda em Materiais de Construção (-0,19%), setores tradicionalmente importantes para a economia brasileira.
“O varejo brasileiro enfrenta um paradoxo preocupante: enquanto vestuário e artigos pessoais mostram vigor excepcional, a maioria dos segmentos opera em marcha lenta ou reversa. É um crescimento concentrado e frágil que não reflete uma recuperação ampla do consumo”, analisa Claudio Felisoni, presidente do IBEVAR e Professor da FIA Business School.
A disparidade entre o desempenho dos diferentes segmentos revela as profundas transformações estruturais e conjunturais que afetam o varejo brasileiro. A estagnação total do setor automotivo confirma o impacto severo das altas taxas de juros mantidas pelo Banco Central, que tornam o crédito proibitivo para a aquisição de bens duráveis. Este cenário é agravado pela cautela dos consumidores diante das incertezas econômicas, refletida também na estagnação das vendas de combustíveis e equipamentos de escritório.
Por outro lado, o forte crescimento do segmento de vestuário pode ser explicado por uma combinação de fatores sazonais e comportamentais. A mudança de estação tradicionalmente impulsiona as vendas do setor, mas o desempenho excepcional de agosto sugere também uma liberação de demanda reprimida, possivelmente relacionada ao retorno mais intenso às atividades presenciais e eventos sociais.
“Observamos que a resiliência do segmento farmacêutico, por sua vez, confirma a natureza essencial e inelástica destes produtos, mantendo crescimento estável independentemente do cenário econômico”, enfatiza Felisoni.
A crise estrutural no segmento de livros e papelaria merece atenção especial. A queda de 8,26% não é apenas conjuntural, mas reflete, como já assinalado em pesquisas anteriores, uma transformação irreversível nos hábitos de consumo, com migração acelerada para formatos digitais e o impacto duradouro das mudanças educacionais implementadas durante a pandemia. Este setor enfrenta o desafio de se reinventar completamente ou aceitar um encolhimento permanente de seu mercado.
O cenário projetado pelo IBEVAR – FIA Business School sugere que o varejo brasileiro está navegando por águas turbulentas, onde apenas alguns setores conseguem encontrar ventos favoráveis. A concentração do crescimento em poucos segmentos torna a recuperação vulnerável a choques específicos e não indica uma melhora sustentável do poder de compra da população. Com cinco dos onze segmentos analisados apresentando crescimento zero e três em retração, o quadro geral é de um consumo reprimido que busca apenas o essencial ou se permite gastos pontuais em categorias específicas como vestuário.
As projeções indicam que, sem uma mudança significativa no cenário macroeconômico – particularmente uma redução nas taxas de juros e melhora na confiança do consumidor – o varejo brasileiro continuará operando em ritmo lento, dependente de desempenho excepcionais de segmentos isolados para manter números agregados minimamente positivos.
*Com informações da assessoria (HM)
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