Bibliotecas flutuantes e obras de arte itinerantes desempenham um papel crucial em levar leitura e cultura às comunidades ribeirinhas da Amazônia. Apesar dos desafios de mobilidade enfrentados por essas populações, essas iniciativas inovadoras oferecem algo mais importante: a chance de vivenciar o conhecimento de maneira sensível e compartilhada.
Projeto Vaga Lume
O projeto Vaga Lume, com mais de 20 anos de atuação na Amazônia Legal, implanta pequenas bibliotecas permanentes em comunidades isoladas. A ONG não só leva livros, mas também capacita mediadores de leitura locais e incentiva a criação de rodas de contação de histórias.
“Ao implantar a biblioteca, oferecemos a formação em mediação de leitura, que é o ato de ler para crianças, jovens, idosos. Junto à formação, também apoiamos os voluntários na gestão da biblioteca por meio da metodologia que chamamos de Jornada das Bibliotecas, uma metodologia desenvolvida por nós que apresenta estágios de crescimento e maturação do espaço de leitura”, explicou Felipe Cincinato, coordenador de comunicação da Vaga Lume.
A iniciativa tem gerado impactos significativos nas comunidades. Educadores locais observam melhorias na alfabetização, no interesse pela leitura e na autoestima das crianças, que se veem representadas nas histórias. Assim, a leitura se transforma em uma ferramenta de valorização cultural e preservação dos saberes tradicionais.
Valorizar a cultura local
O projeto também visa valorizar a cultura local. Ele transforma as bibliotecas comunitárias em espaços de encontro, lazer e manifestação cultural.
“É comum que as festas tradicionais aconteçam no entorno da biblioteca. Até por isso, dentro da nossa estratégia, oferecemos a formação de Livros Artesanais, momento em que a comunidade se reúne para ouvir as histórias dos mais velhos e as registra em livros redigidos e ilustrados à mão pela comunidade. Uma forma de resgatar e valorizar as tradições orais”, afirmou Felipe Cincinato.
Implantação de novas bibliotecas
Entre os dias 28 de julho e 3 de agosto, no município de Uarini (a 687 quilômetros de Manaus), a ONG implantará mais uma biblioteca comunitária, entregando o acervo e a infraestrutura necessária para seu funcionamento.
“Partindo dos indicadores sociais, o cenário é desafiador: se, por um lado, temos vulnerabilidade no acesso ao saneamento, à educação e à proteção, por outro, temos engajamento genuíno e um claro desejo de transformação social do território. As bibliotecas serão parte dessa transformação e serão geridas pelas comunidades”, afirmou Nathalia Flores, gerente de Educação da Vaga Lume.
Leitura além dos livros: O Barco Bienal das Amazônias
Desde seu lançamento, a Bienal das Amazônias reflete a riqueza cultural da região amazônica, conectando arte, ancestralidade e questões socioambientais.
O Barco Bienal das Amazônias, “Sobre as Águas”, proporciona uma experiência literária viva. Ele se experimenta não apenas com os olhos, mas também com o corpo, a escuta e o coração. Ao navegar por diferentes cidades, o barco oferece algo além de livros: ele proporciona tempo e espaço para que a leitura se transforme em uma vivência sensorial, coletiva e diária. Por meio de oficinas, rodas de conversa, aulas e atividades voltadas para todas as idades, o projeto cria um ambiente propício para que o prazer pela leitura se desperte ou se fortaleça.
“As palavras não são impostas — são convidadas. Lê-se poesia em voz alta, lê-se o céu estrelado no terraço, o rio com os pés mergulhados. Estimula-se a leitura como aquilo que nos atravessa e nos transforma — mesmo quando não vem impressa em papel. O barco é uma obra de arte que lê e se deixa ler. Uma travessia onde o letramento se dá por encantamento, por partilha, por presença”, afirmou Keyna Eleison, curadora da Bienal das Amazônias sobre as Águas e diretora de Conteúdo e Pesquisa do Instituto Bienal das Amazônias.
Impacto nas comunidades
O impacto do Barco Bienal é notável. O projeto recebe centenas de visitantes em cada cidade que visita, mostrando o desejo coletivo por experiências culturais e literárias. O brilho nos olhos de quem entra no barco pela primeira vez, o silêncio atento durante uma leitura de poema, o riso espontâneo durante as oficinas, e até o gesto de alguém que decide ficar mais um pouco são sinais do impacto da iniciativa.
“Eu me lembro de uma criança que, depois de uma atividade, sussurrou: ‘aqui parece sonho, né?’. E era. Um sonho real, construído a muitas mãos. Mas esse impacto não se dá apenas no afeto individual — ele também se revela no número expressivo de pessoas que participaram”, relatou Keyna Eleison.
Apesar de ser um evento artístico, a Bienal também cria pontes com o universo da leitura, valorizando as narrativas e expressões culturais da floresta. Ao focar nas águas, o projeto reforça a ideia de que leitura não é apenas texto, mas uma experiência, memória e pertencimento.
Incentivo à leitura
Iniciativas como a Vaga Lume e a Bienal das Amazônias reforçam a importância da criação de políticas públicas que incentivem a leitura em comunidades de difícil acesso. O Ministério da Cultura, por exemplo, propõe como metas da nova Política Nacional de Leitura e Escrita garantir a existência de pelo menos uma biblioteca pública em cada município e aumentar em 10% o número de bibliotecas escolares a cada ano até 2035.
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