Turismo e Exploração Animal na Amazônia: um Debate Necessário
O turismo no Amazonas, conhecido por sua rica biodiversidade, tem atraído um número crescente de visitantes em busca de experiências autênticas nas comunidades ribeirinhas. No entanto, essa prática levanta questões sobre a exploração da fauna local.Recentemente, um vídeo da escritora Gisela Bacelar ganhou destaque ao expor a situação alarmante de animais silvestres utilizados em passeios turísticos.
Esses animais são frequentemente mantidos em condições inadequadas e amarrados para garantir interações com os turistas. A capivara Filó é um exemplo emblemático; retirada do seu habitat natural, ela ilustra o dilema entre turismo sustentável e exploração animal. Apesar das leis que visam proteger a fauna local, muitos se perguntam: por que essas práticas ainda persistem?
Dados do Ministério do Turismo indicam que mais de 28 mil turistas internacionais visitaram o Amazonas em 2024, representando um aumento significativo em relação ao ano anterior. Entre as atrações mais procuradas estão os passeios que permitem contato direto com animais silvestres como botos e jacarés. Contudo, essa interação muitas vezes resulta na exploração comercial dos animais.
Maus-Tratos e Tráfico Ilegal
Relatos de turistas revelam situações preocupantes durante esses passeios.Elisabeth Carvalho compartilhou sua experiência ao pagar R$ 150 pelo ingresso para uma atividade que incluía banho com botos e fotos com jacarés; no entanto, as interações eram cobradas à parte e incentivadas pelos organizadores.
Maria Eduarda também presenciou práticas questionáveis durante sua visita: “Vi apenas a boca do jacaré amarrada”, disse ela sobre a situação dos animais usados para fotos pagas pelos turistas. Especialistas alertam que tais atividades podem causar danos irreversíveis à biodiversidade local.
A bióloga Rebeca Soares enfatiza os riscos associados à retirada de animais de seus habitats naturais: “Isso compromete o bem-estar das espécies envolvidas”. Um levantamento da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) revela que cerca de 38 milhões desses seres são retirados anualmente da Amazônia brasileira.
Conscientização é Fundamental
O debate sobre o impacto do turismo na fauna amazônica não é novo; já em 2018 houve audiências públicas promovidas pelo Ministério Público federal para discutir essas questões. Dados mostraram que uma grande porcentagem das excursões oferecia interação direta com os animais — prática considerada prejudicial tanto aos bichos quanto ao meio ambiente.
Elisabeth reflete sobre sua participação nessas atividades: “Depois percebi que contribuí para algo errado”. Essa conscientização é crucial para romper ciclos viciosos relacionados à exploração animal disfarçada como experiência cultural.
Medidas Necessárias contra Práticas ilegais
A conscientização sozinha não basta; ações concretas devem ser implementadas pelas autoridades competentes. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) está intensificando fiscalizações junto ao Batalhão Ambiental para coibir práticas ilegais relacionadas aos animais silvestres no estado.
Recentemente foram realizadas operações na região do Lago Janauari — conhecida pela exploração ilegal — mas dificuldades persistem devido à evasão dos infratores antes da chegada das equipes fiscais.
Além disso, foi criado um grupo interinstitucional focado no combate às atividades ilegais envolvendo fauna silvestre e desenvolvimento de campanhas educativas voltadas tanto aos turistas quanto aos operadores turísticos locais.
A campanha “Nunca Toque, Observe” liderada pela Amazonastur visa sensibilizar visitantes sobre a importância da preservação ambiental e proíbe o manuseio inadequado dos seres vivos nativos durante as visitas turísticas nos pontos estratégicos da capital amazonense.É fundamental lembrar que explorar ou fazer uso comercial indevido da imagem desses seres vivos pode configurar crime segundo a legislação vigente no Brasil (Lei Federal nº 6.154/2008).
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