A recente decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifas de até 50% sobre produtos importados do Brasil, como aço e alumínio, deve gerar reflexos diretos para setores estratégicos da Zona Franca de Manaus (ZFM). A avaliação é da coordenadora-geral de Assuntos Estratégicos da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Ana Maria de Souza.
Segundo ela, a medida anunciada pelo presidente Donald Trump, caso implementada, pode afetar negativamente a exportação de “commodities” – mercadorias – brasileiras, com destaque para o café, a indústria de base e o setor siderúrgico.
“Produtos como aço e alumínio perdem competitividade no mercado americano, mas melhoram de preço no mercado interno, o que pode contribuir para a redução do chamado ‘custo Brasil’ para a indústria nacional, inclusive a instalada na Zona Franca”, afirmou.
Comércio desequilibrado
Ana Maria ressaltou que o fluxo comercial entre a ZFM e os Estados Unidos é tradicionalmente deficitário para o Brasil. “As exportações da Zona Franca para os EUA são 14 vezes menores que as importações. Para cada dólar exportado, importamos US$ 14”, explicou.
Em 2024, segundo dados da Suframa, a ZFM exportou pouco mais de US$ 99 milhões para o mercado norte-americano, enquanto as importações somaram US$ 1,4 bilhão. No acumulado de 2025 até o momento, as exportações do Amazonas para os EUA totalizam US$ 35 milhões, com destaque para motocicletas, caixas eletrônicos e instrumentos de rolagem. Por outro lado, as importações mais expressivas envolvem insumos para a indústria termoplástica, como etileno e alfa-olefina.
Ana Maria pondera que, diante do novo cenário, a desvalorização do real pode favorecer a colocação de produtos brasileiros em outros mercados, como Europa e América do Sul. Ela também avalia que, caso o Brasil opte por adotar medidas de reciprocidade, os impactos diretos sobre o fornecimento de insumos para a ZFM devem ser limitados.
“As maiores consequências estariam no campo financeiro, com elevação do risco-Brasil, redução de fundos de investimento e crédito internacional mais caro. O impacto mais grave, no entanto, é diplomático, podendo deflagrar uma guerra comercial caso o Brasil venha a retaliar taxando automóveis ou defensivos agrícolas”, alertou.
Indústria cobra resposta
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, também se manifestou sobre o tema, classificando a taxação como uma medida que atinge setores estratégicos do Polo Industrial de Manaus, especialmente os que produzem bens intermediários.
“Embora o nosso mercado seja majoritariamente interno, a internacionalização das indústrias da Amazônia é um caminho necessário e irreversível. Medidas protecionistas como essa representam um retrocesso. A Fieam defende o comércio justo e sustentável e espera uma resposta firme do governo brasileiro, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), para proteger os empregos e a competitividade da nossa região”, afirmou.
Azevedo reforçou que, mesmo com impacto direto menor no volume de exportações da ZFM, o novo cenário global impõe desafios ao posicionamento do Brasil nas cadeias produtivas internacionais e exige articulação institucional e política para preservar os interesses da indústria nacional.
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