A partir de agosto, quem embarcar nos ônibus de Manaus vai ter companhia diferente no trajeto diário. Figuras míticas, cores vivas e memórias da floresta irão ocupar as traseiras dos veículos de transporte público. São criações de 10 artistas amazonenses selecionados pelo projeto Arte no Busão, que transforma os coletivos da capital em verdadeiras galerias móveis a céu aberto.
Realizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e coordenada pela Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Concultura), a iniciativa movimenta arte ao cotidiano de mais de 500 mil pessoas de forma acessível e plural, com representatividade de mulheres, indígenas, LGBTQIAPN+ e artistas do interior do Amazonas.
Arte no trajeto
A iniciativa busca aproximar a arte do cotidiano da população, democratizando o acesso e ocupando os espaços públicos com manifestações visuais que dialogam com a diversidade cultural e identitária do Amazonas. Manaus, cidade marcada por uma pluralidade de povos e tradições, como indígenas, ribeirinhos, afrodescendentes e migrantes nordestinos, vê sua história e seus símbolos refletidos nas imagens que irão percorrer suas ruas.
O projeto não apenas exibe as obras, mas também prevê desdobramentos através da produção de conteúdo exclusivo nas redes sociais, aumentando sua presença para além do espaço físico dos coletivos.
“Acredito na força do Arte no Busão por levar arte para onde as pessoas realmente estão: nas ruas. Manaus tem mais de 500 mil usuários de transporte público por dia — por que não transformar esse trajeto em um momento afetivo? O Norte é a região que menos acessa museus e cinemas, segundo o Censo do IBGE 2022. A ideia do projeto é combater com atos de criação, vamos fazer 10 artes de 10 artistas amazonenses circular entre nós. É uma forma de reafirmar para os outros e também para nós mesmos, que o Amazonas é fonte de uma arte diversa e potente”, destaca a gestora do projeto, Sarah Campelo.
Vozes amazônicas
Entre os artistas selecionados está Fontenele, manauara que se dedica à arte digital inspirada na estética amazônica e nas tradições do boi-bumbá.
“O que eu quero que as pessoas sintam, principalmente ao ver minha arte no ônibus, é que é possível envelopar ônibus com arte, em vez de ser somente com propaganda”, diz.
Sua obra tem como base a toada Pesadelo dos Navegantes, eternizada por Arlindo Jr., e reimagina o choque cultural dos europeus diante da grandiosidade amazônica.
Fontenele destaca o poder da arte para transformar realidades.
“Quando jovens se veem representados na arte, passam a acreditar que também podem criá-la. Democratizar a arte é garantir que crianças indígenas, pretas e periféricas sejam protagonistas, e não apenas espectadoras”, declarou.
Diversidade visual
A artista Dani Maresia vai levar aos ônibus sua trajetória enquanto mulher trans e indígena. Em sua fala, ela reflete sobre como a arte pode ser um instrumento de reconhecimento e identidade:
“Nesse processo comecei a pensar como a minha arte poderia representar a minha vida e como as pessoas se sentiriam representadas, sendo eu uma mulher trans, uma pessoa indígena, que usa a sua arte para falar com esse público”.
Sua obra selecionada, Curitã, traz símbolos de proteção e espiritualidade ancestral.
“Ela representa essa dualidade de dois gêneros. Traz uma mensagem sobre proteção, originalidade e ancestralidade dos povos originários”.
Memória e infância
Já a artista Gabriella Mescarello, nascida e criada em Manaus, encontrou inspiração em lembranças afetivas de sua família. A obra Velha Infância é uma fotografia de duas crianças brincando no rio, na Praia da Lua.
“A cidade pra mim é um grande poço de cultura. Sempre quis mostrar essa riqueza através do meu trabalho. Essa imagem me fez lembrar das histórias que meu pai me contava sobre quando era criança e brincava na beira do rio limpo. Agora, por conta da poluição, vivemos distantes dessa liberdade”, explicou.
Expansão
A expectativa é que o projeto alcance novos desdobramentos no futuro, como exposições virtuais, em terminais e paradas de ônibus, além de oficinas em comunidades, ampliando a sua presença para além do espaço físico dos coletivos.
Quem quiser acompanhar as ações ou apoiar o projeto pode visitar o perfil oficial no Instagram: @artebusao.
Entre um destino e outro, a cidade se vê refletida nas janelas do próprio ônibus — e redescobre ali sua arte, identidade e potência criativa.
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