sábado, agosto 2, 2025
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O Clube da Madrugada e a modernidade na literatura amazonense

Excelente a obra “Clube da Madrugada: presença modernista no Amazonas”, de Tenório Telles, cuja leitura é bastante contagiante por apresentar uma análise profunda sobre o impacto do movimento modernista na literatura e nas artes amazonenses.

O livro revisita a trajetória do Clube da Madrugada, uma agremiação literária e artística que rompeu com as convenções estéticas predominantes no Amazonas, sobretudo o parnasianismo, e promoveu a renovação da literatura local.

Na década de 1970, a partir de 76, quando iniciei minha atividade jornalística na imprensa amazonense trabalhando no jornal A Notícia, tive oportunidade de conviver com os membros do Clube e viver alguns dos seus grandes momentos de produção literária no Estado.b.

Na verdade, o movimento, fundado em 1954, foi um divisor de águas na produção cultural da região, abrindo espaço para novas vozes e consolidando um diálogo mais estreito entre a literatura amazonense e as correntes artísticas nacionais e internacionais.

A nova edição do livro pela Editora Valer inclui o fac-símile do manifesto original do Clube da Madrugada, publicado em novembro de 1955, além de documentos inéditos e fotografias extraídas das revistas do movimento.

A presença desse material comprova o esforço do autor em tornar acessível um vasto acervo de informações sobre o modernismo amazonense, garantindo que sua pesquisa sirva de base para novos estudos.

Telles reconhece que a produção cultural modernista no Amazonas surgiu tardiamente, quando comparada ao movimento que se consolidou no Sudeste do Brasil após a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas enfatiza que essa adesão tardia não reduziu a importância do Clube da Madrugada, que conseguiu imprimir uma nova identidade à literatura amazonense.

Telles argumenta que a tradição literária amazonense enfrentava barreiras impostas pelo academicismo e pelo conservadorismo estético, elementos que o Clube da Madrugada procurou superar por meio da experimentação e da valorização das especificidades regionais.

A formação do Clube

Foto: Divulgação

O livro detalha o contexto que levou à fundação do Clube da Madrugada, destacando a influência de escritores como Pereira e Silva (Poemas Amazônicos), Violeta Branco (Ritmos de inquieta alegria, 1935) e Thiago de Mello (Silêncio das palavras, 1951), que já apontavam para uma ruptura com a estética tradicional.

Esses autores foram precursores de um movimento que mais tarde se consolidaria com a criação do Clube da Madrugada.

A agremiação reunia escritores, jornalistas, artistas plásticos e intelectuais que compartilhavam o desejo de modernizar a literatura e as artes no Amazonas. Entre seus principais membros estavam Jorge Tufic, Luiz Bacellar, Ernesto Penafort, Arthur Engrácio, Antísthenes Pinto, Van Pereira, Aníbal Beça, Elson Farias, Moacir Andrade, Zemaria Pinto e o próprio Tenório Telles, entre outros gigantes.

Os autores, além de defenderem novas propostas estéticas, também buscavam afirmar a identidade amazônica dentro da cultura brasileira, rompendo com a visão estereotipada da região e valorizando sua complexidade e riqueza sociocultural.

Repercussão do movimento

Ao longo da década de 1970, o Clube da Madrugada perdeu força, dando lugar a novas iniciativas literárias que não estavam mais vinculadas a um grupo específico. O período, que Telles denomina de Pós-Madrugada, foi marcado pelo surgimento de autores independentes que alcançaram projeção nacional e internacional, como Márcio Souza (Galvez, Imperador do Acre, 1976) e Milton Hatoum (Relato de um certo Oriente, 1989).

Além deles, destacam-se nomes como Aníbal Beça, Aldisio Filgueiras, Zemaria Pinto e Cláudio Fonseca, que seguiram produzindo literatura de alta qualidade e ampliando as fronteiras da escrita amazonense.

No campo da poesia, Simão Pessoa se destacou com uma abordagem mais próxima da poesia marginal dos anos 1970, produzindo obras como Old fashioned (1977) e Porandubas (1984). Seu trabalho reflete um espírito de contestação e rebeldia, características essenciais do movimento modernista. Tenório Telles, por sua vez, seguiu contribuindo para a crítica literária e a formação de novas gerações de leitores e escritores, publicando livros como “Estudos de literatura brasileira e amazonense” (1995) e “Manaus – solo dissonante” (2020).

Desafios da literatura

Foto: Divulgação

Telles diz que a literatura produzida no Amazonas reflete os desafios de uma cultura periférica, muitas vezes ignorada pelos grandes centros culturais do país. Conforme ele, os escritores amazonenses enfrentam obstáculos como o isolamento geográfico, a falta de incentivos culturais e o descompasso entre a produção local e as tendências literárias nacionais e internacionais.

Porém, o autor reconhece que, apesar dessas dificuldades, a literatura do Estado conseguiu se afirmar por meio da originalidade de suas obras e da persistência de seus escritores.

A principal contribuição do Clube da Madrugada, segundo Telles, foi ter estabelecido uma ponte entre a literatura amazonense e o modernismo, permitindo que novas gerações de escritores explorassem linguagens inovadoras e rompesse com as amarras do passado.

O impacto é perceptível na diversidade de estilos e temáticas presentes na produção literária da região nas últimas décadas, evidenciando que o legado do Clube ainda ressoa na literatura contemporânea do Amazonas.

O livro “Clube da Madrugada: presença modernista no Amazonas” é uma obra fundamental para a compreensão do modernismo amazonense e sua relevância na literatura brasileira.

Ao resgatar a história do movimento e destacar seus protagonistas, Tenório Telles evidencia a importância de iniciativas que desafiam as convenções estéticas e promovem a renovação cultural. Mais do que um registro histórico, o livro é um convite à reflexão sobre o papel da literatura na construção da identidade amazônica e na valorização da diversidade cultural do Brasil.

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