sábado, outubro 4, 2025
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Notícias do Amazonas – Histórias Ocultas dos Povos Ancestrais da Amazônia

Escondidos há pelo menos 12 mil anos sob a densa vegetação amazônica, vestígios dos povos originários vêm sendo revelados gradualmente por meio do conhecimento indígena e quilombola, do trabalho de arqueólogos e da tecnologia light detection and ranging (Lidar). Essa ferramenta permite mapear sítios arqueológicos sem intervenção física na floresta, contribuindo para a preservação ambiental. O projeto Amazônia Revelada: Mapeando Legados Culturais, coordenado pelo arqueólogo Eduardo Neves, utiliza essa tecnologia para identificar e proteger áreas históricas na região. Além disso,pesquisadores locais colaboram no levantamento de elementos culturais importantes para as comunidades tradicionais.

Tecnologia Lidar e o Mapeamento Arqueológico na Amazônia

A tecnologia lidar consiste em um sensor remoto instalado em pequenos aviões que sobrevoam a floresta emitindo lasers capazes de mapear sítios antigos com alta precisão. Antes dessa inovação, muitas descobertas arqueológicas dependiam da movimentação do solo ou alterações visíveis na paisagem – como os geoglifos encontrados no Acre. Com o uso do Lidar é possível realizar mapeamentos detalhados sem causar desmatamento ou escavações.

Missão do Projeto Amazônia Revelada

O objetivo principal é adicionar uma camada extra de proteção à Amazônia e ajudar a conter sua destruição crescente. Para isso, pesquisadores indígenas e quilombolas atuam diretamente no levantamento dos elementos materiais ou inscrições presentes na paisagem que indicam sítios arqueológicos ou locais significativos para suas comunidades.

Eduardo Neves destaca que o discurso colonial que desconsiderava as origens indígenas da região contribuiu historicamente para justificar o desmatamento e ocupações ilegais. “A imagem da Amazônia como terra vazia legitima hoje ações predatórias”, afirma ele. O projeto busca inverter essa lógica ao valorizar as contribuições milenares dos povos tradicionais para manter a floresta viva.

Patrimônio Linguístico: A Importância das Línguas Indígenas

O Brasil possui cerca de 274 línguas indígenas faladas por 305 etnias segundo dados do Censo Demográfico de 2010. Muitas dessas línguas estão ameaçadas de extinção nas próximas décadas devido ao número reduzido de falantes vivos.

A luta pela preservação cultural

A linguista Altaci Kokama atua intensamente pela valorização desses sistemas culturais essenciais não só aos povos indígenas mas à humanidade como um todo. Ela ressalta que as respostas para preservar a Amazônia estão nas próprias línguas indígenas, pois elas guardam saberes fundamentais sobre biodiversidade e cura ambiental.

Altaci explica que seu engajamento começou nos anos 1980 com o fortalecimento da língua Kokama em sua comunidade no Alto Solimões (AM). Hoje doutora em Linguística e copresidente da Força Tarefa Global pela Década das Línguas Indígenas (Unesco),ela trabalha junto ao Ministério dos Povos Indígenas defendendo políticas públicas voltadas à educação bilíngue,produção cultural indígena e investimentos em pesquisas dentro da própria floresta.

A presença negra na história social amazônica

embora os povos indígenas sejam frequentemente lembrados quando se fala da história social amazônica,populações negras descendentes de africanos também têm papel fundamental nessa região rica em diversidade cultural.

Contribuições quilombolas à proteção ambiental

O antropólogo Davi Pereira destaca que cerca de 75% da população da Amazônia Legal é composta por pessoas negras, mas ainda existe uma visão equivocada sobre “Amazônia Negra”. Ele reforça que os corpos negros também estão assentados ancestralmente nesse território devido à diáspora forçada pela escravidão.

Davi atua academicamente defendendo direitos quilombolas por meio da cartografia social – ferramenta poderosa contra monopólios estatais sobre mapas territoriais – além de participar ativamente em processos judiciais relacionados às terras tradicionais ameaçadas por projetos governamentais como a base espacial instalada em Alcântara (MA).

Ele alerta ainda sobre os impactos negativos das políticas neoliberais que transformam territórios ancestrais em commodities exploráveis: “Os povos originários e quilombolas são parte essencial das soluções contra a crise climática”.


Conservar a riqueza histórica-cultural aliada às tecnologias modernas é fundamental para garantir um futuro sustentável à Amazônia. Projetos integradores entre ciência contemporânea e saberes tradicionais mostram caminhos promissores nessa direção.

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