Há 137 anos, a escravidão foi oficialmente abolida no Brasil com a assinatura da Lei Áurea. Desde então, o país passou por transformações sociais e tecnológicas importantes, mas o racismo ainda permanece presente, muitas vezes de forma disfarçada ou naturalizada no cotidiano. O Atlas da Violência 2025 revelou que pessoas negras têm 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que pessoas brancas. Apesar de uma leve queda em relação a 2024, essa desigualdade continua evidente nas periferias, prisões e cemitérios brasileiros. diante desse cenário, cresce a necessidade urgente de políticas públicas antirracistas eficazes e mensuráveis.
Desigualdade racial na violência no Brasil
O Atlas da violência é um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados divulgados mostram que em 2023 o risco para pessoas negras sofrerem homicídios era 2,7 vezes maior do que para não negras – uma redução discreta frente ao índice registrado em 2022 (2,8 vezes). No entanto, comparado à década anterior esse número aumentou: em 2013 esse risco era 2,4 vezes maior para negros.
Perfil dos grupos considerados
O estudo considera como negros os grupos formados por pessoas pretas e pardas – que somam 55,5% da população brasileira e enfrentam os piores indicadores socioeconômicos do país. Segundo os pesquisadores Daniel Cerqueira (Ipea) e Samira Bueno (FBSP), apesar dos avanços na redução geral dos homicídios no Brasil nos últimos anos “a desigualdade racial associada à violência letal não apenas persiste como se intensifica”.
Avanços na luta antirracista em Manaus
Segundo dados do Censo IBGE 2022 sobre Manaus:
- 75,2% da população se declara negra
- 5,6% preta
- 69,9% parda
A Secretária Nacional de Ciência e Tecnologia da Unegro – União de Negras e Negros pela Igualdade – Zanza Almeida destaca a importância do reconhecimento das marcas deixadas pela escravidão como passo fundamental para avançar na igualdade social.
“Assumir uma postura que reconheça uma dívida histórica é um movimento importante. O poder público tem gradualmente viabilizado espaços políticos estratégicos contra o racismo institucional“, afirma Almeida.
Ela ressalta ainda que as ações antirracistas devem partir da sociedade inteira e abranger todas as esferas: desde atitudes cotidianas até políticas públicas estruturadas.
Fortalecimento do movimento negro
Zanza Almeida também aponta o fortalecimento das lideranças locais:
“O movimento negro está cada vez mais forte no estado e capital com pautas sociais diversas envolvendo educação, saúde cultural; além da organização para a Marcha das Mulheres Negras prevista para novembro.”
Secretaria dedicada à igualdade racial em Manaus
Em resposta às demandas sociais pela promoção racial igualitária foi criada em Manaus a Secretaria Executiva de Relações institucionais e Promoção da Igualdade Racial (Semuripir) em 2023. A pasta é comandada por Walfran Torres com Christian Rocha atuando como subsecretário.
Atuação inicial da Semuripir
Rocha destaca as primeiras ações realizadas:
- Centenas de atendimentos sociais
- Regularização documental para grupos étnico-raciais
- Acolhimento às denúncias relacionadas ao racismo
Mesmo sem orçamento próprio definido inicialmente,a secretaria tem promovido debates sobre diferentes formas de racismo – estrutural , institucional , ambiental , religioso – através palestras direcionadas a escolas , órgãos públicos e empresas privadas .
Desafios apontados pela gestão pública
Um dos principais desafios identificados pelo subsecretário Christian Rocha é ampliar o letramento racial dentro das instituições públicas bem como entre toda sociedade civil :
“Inserir educação antirracista será sempre um desafio porque percebemos ausência desse conhecimento entre autoridades mas também há vontade real aprender”, explica .
zanza Almeida reforça ainda ser essencial priorizar as pautas coletivas acima dos interesses pessoais nos debates públicos relacionados ao combate ao racismo :
“É importante que conselhos estaduais cumpram seu papel fiscalizador evitando conflitos entre movimentos sociais , egos pessoais ou interesses políticos”, conclui .
Conclusão
apesar dos avanços institucionais recentes na promoção da igualdade racial – especialmente visíveis nas ações desenvolvidas pela Semuripir -, os dados alarmantes apresentados pelo Atlas evidenciam que muito ainda precisa ser feito contra o racismo estrutural brasileiro. A persistente vulnerabilidade das populações negras diante à violência exige respostas urgentes por meio políticas públicas efetivas aliadas à mobilização social contínua.
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