Escritor amazonense apresenta “Dança de enganos” e “A natureza como ficção” no Largo São Sebastião
Manaus se prepara, mais uma vez, para celebrar um dos nomes mais expressivos da literatura brasileira. No dia 14 de dezembro de 2025, o escritor amazonense Milton Hatoum retorna à cidade para lançar duas novas obras: Dança de enganos (Companhia das Letras) e A natureza como ficção (Valer).
O evento, que será gratuito, ocorrerá às 10h, no Valer Teatro, no Largo São Sebastião, e promete atrair leitores, pesquisadores e admiradores que desejam acompanhar de perto o diálogo do autor com sua própria trajetória literária. Além disso, o encontro oferecerá uma oportunidade rara de aproximação com um dos romancistas mais premiados do país.
Encontro com o público e novos lançamentos
Hatoum, conhecido mundialmente por títulos como Relato de um certo Oriente e Dois irmãos, participará de uma manhã dedicada a autógrafos, conversa com o público e apresentação das novas obras. Assim, o evento se torna um marco especial tanto para a cena literária local quanto para o público que acompanha a evolução do escritor ao longo dos anos. Dessa forma, Manaus se reconecta com uma voz que, embora internacionalmente reconhecida, mantém fortes raízes na Amazônia.
Para Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer, doutora em Filosofia e autora de Poetas, filósofos e xamãs – um encontro com a palavra, a presença de Hatoum na editora reforça, sobretudo, a relevância de sua obra para a cultura brasileira e amazônica.
“É uma honra e um momento de intensa alegria, porque Milton Hatoum, além de ser o escritor que é, é um ser humano encantador e defensor das pessoas mais desfavorecidas no mundo, por exemplo, é uma das vozes mais forte em favor da Palestina. Isso aprofunda o seu valor, especialmente como um homem localizado no seu tempo, com coerência e argumentos em defesa de vozes nunca ouvidas”.
Sobre A natureza como ficção
Em A natureza como ficção, publicado pela Editora Valer, Hatoum analisa a representação da floresta em duas obras fundamentais da literatura sobre a Amazônia: A selva, de Ferreira de Castro, e Mad Maria, de Márcio Souza. Ao longo da análise, o autor evidencia contrastes entre barbárie e cultura, revelando visões distintas — mas igualmente impactantes — sobre o ambiente e os personagens que vivem ou chegam à região.
Além disso, ele destaca percepções sobre os povos nativos e sobre os trabalhadores estrangeiros que participaram da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré ou atuaram no seringal Paraíso, durante o ciclo da borracha. Dessa maneira, a obra funciona como um incentivo à leitura comparada e à compreensão das complexidades amazônicas narradas por duas gerações de escritores.
Sobre Dança de enganos
Já em Dança de enganos, seu novo romance pela Companhia das Letras, Milton Hatoum retoma temas sensíveis de sua obra, como memórias familiares, perdas afetivas e tensões políticas. Neste drama ambientado no fim dos anos 1960, a narrativa acompanha Lina, mãe de Martim, que assume a voz principal e revisita o passado em meio ao período turbulento da ditadura militar.
Assim, enquanto relembra a vida ao lado de personagens como o irmão Dácio, a mãe Ondina, a confidente Delinha e o artista Leonardo, Lina questiona os silêncios, as ausências e os enganos que moldaram sua trajetória.
O livro traz reflexões densas, como no trecho:
“É possível explicar ou entender certos sentimentos? […] É preciso dar tempo ao passado.”
A ausência de Martim — protagonista de A noite da espera e Pontos de fuga — atravessa toda a narrativa, tornando-se também uma presença simbólica em cada gesto e memória da mãe. Dessa forma, o romance conduz o leitor a refletir sobre a questão central levantada pela obra: a memória escolhe o que deseja esquecer?
Sobre o autor
Nascido em Manaus, em 1952, Milton Hatoum estudou Arquitetura na USP e estreou na literatura com Relato de um certo Oriente (1989), vencedor do Prêmio Jabuti. Ao longo da carreira, publicou títulos que se tornaram referência, como Dois irmãos (2000), adaptado para televisão, teatro e quadrinhos, e Cinzas do Norte (2005), que lhe rendeu diversos prêmios nacionais e internacionais.
Além disso, sua ficção já foi traduzida em 14 países e, em 2018, ele recebeu o Prêmio Roger Caillois (Maison de l’Amérique Latine/PEN Club–França). Por isso, sua presença em Manaus reafirma a força de sua produção literária e seu papel como um dos mais importantes cronistas da Amazônia contemporânea.
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