Implantada em 2008, a Lei Seca tem como objetivo impedir que pessoas conduzam veículos sob a influência de álcool ou substâncias psicoativas. Quem desrespeita a norma está sujeito a multa e à suspensão da carteira de habilitação por até 12 meses. No entanto, muitos motoristas ainda ignoram a regra — e no Amazonas, a realidade não é diferente.
De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), entre janeiro e julho de 2025, foram registrados 1.452 casos de alcoolemia — quando o condutor apresenta álcool no sangue — e 711 recusas ao teste do bafômetro. Para efeito de comparação, em todo o ano de 2024, foram contabilizados 1.420 casos de alcoolemia e 811 recusas.
Já nas rodovias federais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que, em 2024, 58 condutores foram encaminhados à Delegacia de Polícia Civil por dirigirem sob a influência de álcool — conduta considerada crime de trânsito. Em 2025, até o último dia 28, esse número chegou a 24 motoristas.
‘Só uma cervejinha’
Há 17 anos, a lei tenta conscientizar condutores, mas nem todos possuem o senso de responsabilidade no trânsito, arriscando, muitas vezes, a vida do próximo. Um dos últimos casos ocorreu no início de julho, na Avenida Coronel Teixeira, em frente ao Centro Educacional Século, bairro Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus.
Naquela manhã, o motorista de uma picape, que seguia em alta velocidade e levava duas mulheres como passageiras, perdeu o controle da direção e colidiu com outro carro, onde estavam uma mulher e uma criança. Com o impacto, o segundo veículo rodou na pista e bateu em um poste de energia. Segundo a Polícia Militar, o condutor da picape apresentava sinais de embriaguez.
Essa recusa em seguir as regras sociais frequentemente vem acompanhada de justificativas inconsistentes, que comprometem o senso de realidade dos indivíduos e colocam em risco a vida da população.
“Do ponto de vista da psicologia social, esse comportamento pode ser explicado pelo conceito de normalização de condutas desviantes, que ocorre quando práticas consideradas ilegais ou de risco passam a ser interpretadas como socialmente aceitáveis dentro de determinados grupos sociais. […] Além disso, há o fenômeno da dissonância cognitiva (Festinger), em que o indivíduo tenta justificar atitudes incoerentes com normas legais ou morais. Por exemplo, ‘eu bebo, mas sei dirigir bem’ é uma forma de reduzir a tensão entre saber que é errado e continuar fazendo”, explicou o psicólogo Silvio Ponce de Leão.
Esse comportamento tem consequências graves. A pesquisa do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) revelou, no ano de 2021, que o álcool no trânsito mata 1,2 brasileiro por hora.
Falso controle e mudança de comportamento
Mudar a mentalidade dos condutores ainda é um dos maiores desafios para as autoridades de trânsito. Muitos, sob efeito do álcool, subestimam os impactos da bebida. A partir de 0,34 mg/L no bafômetro, a infração é considerada crime, e o motorista é levado à delegacia para os procedimentos legais.
No entanto, é importante destacar que o condutor tem o direito de recusar o teste do bafômetro, mas essa escolha não o isenta das penalidades previstas em lei.
“O álcool influencia diretamente no comportamento e dá aquela sensação de falso controle, e essa resistência está associada em fatores emocionais e sociais. […] Essa recusa[[teste do bafômetro]está atrelada a questões emocionais, não querer ceder, mostrar poder, comportamentos desafiadores e sim a negação, usando-as como mecanismo de defesa”, ressaltou a especialista em psicologia do trânsito, Eliane Leocádio.
Ainda segundo a profissional, além do reforço na fiscalização da Lei Seca, é fundamental promover a conscientização dos motoristas sobre a importância da segurança no trânsito.
“A Lei Seca tem salvado muitas vidas, mas ainda não conseguiu essa transformação de mentalidade como esperamos, acredito que precisamos trabalhar muito ainda principalmente falar mais sobre educação no trânsito, Campanhas de conscientização emocional e informativas”, pontuou a especialista.
Responsabilidade
Nas rodovias estaduais, o Detran-AM realiza mensalmente campanhas educativas e de conscientização para incentivar o respeito às normas do Código de Trânsito Brasileiro. No entanto, é fundamental lembrar que a responsabilidade também cabe aos próprios condutores.
O motorista Felipe Santos contou ao Em Tempo que já se deparou com fiscalizações nas estradas do Amazonas e considera essas ações essenciais para garantir a segurança de quem circula pelas rodovias do estado.
“Já passei por um teste do bafômetro enquanto voltava na estrada. Acho certo essa fiscalização porque ela evita acidentes, tem gente que bebe e não tem responsabilidade, que arrisca a vida do outros”, destacou.
Para a motorista Lorena Pimentel, as ações de fiscalização são importantes, mas de pouco adiantam se o próprio condutor não respeita a Lei Seca.
“Ainda não passei pelo teste, mas já vi acidente onde dentro do carro do motorista foi encontrado garrafas de bebidas. É triste, nem todo mundo tem consciência no trânsito”, pontuou.
Apesar dos registros de acidentes envolvendo álcool e direção, a PRF destaca que desde a implementação da Lei Seca, observa-se uma mudança gradual, porém significativa, no comportamento dos motoristas amazonenses nas rodovias federais. A intensificação da fiscalização e das campanhas educativas da PRF e de outros órgãos, faz com que a conscientização sobre os riscos de dirigir sob efeito de álcool aumente.
“Atualmente, percebe-se que há mais condutores conscientes sobre os perigos e os risco de dirigir sob o efeito de álcool, havendo uma maior responsabilidade de cada um para a segurança viária”, apontou o órgão.
À reportagem do Em Tempo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que, em 2024, foram registrados cerca de 8 acidentes relacionados à embriaguez ao volante e 73 autos de infração. Em 2025, até o momento, já são 4 acidentes e 54 autuações.
Enquanto as autoridades de trânsito atuam de forma integrada na fiscalização de rodovias, estradas e avenidas, a efetividade da Lei Seca também depende da responsabilidade dos próprios condutores — que, ao desafiar as regras, colocam em risco a própria vida e a dos outros.
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