Cerca de 50 ex-testemunhas de Jeová realizaram um protesto no sábado (15), em Cesário Lange, interior de São Paulo, durante a visita ao Brasil de Robert Ciranko, líder mundial da igreja. O grupo manifestou-se contra o acobertamento de abusos sexuais dentro da congregação, o isolamento imposto a ex-fiéis e a proibição da transfusão de sangue entre os membros.
Protesto contra abusos e normas internas
A manifestação teve como objetivo principal chamar atenção para problemas graves enfrentados por membros e ex-membros das Testemunhas de Jeová. Entre as denúncias está o acobertamento de casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes,que segundo os participantes,não são devidamente investigados pela instituição.
Além disso, os manifestantes repudiaram a regra que impede fiéis de receberem transfusões sanguíneas mesmo em situações médicas críticas. Essa norma tem gerado preocupação entre aqueles que deixaram a religião ou foram expulsos por questioná-la.
Ostracismo e isolamento social
Um dos pontos mais criticados pelos ex-fiéis é o chamado ostracismo, uma prática interna que determina o corte total do contato com familiares ou amigos que abandonam a doutrina. Jacira da Silva Amaral,72 anos,esteve na religião por quatro décadas e relata as consequências dessa norma:
“Quando alguém sai da organização ocorre uma ‘morte social’. Famílias se desintegram: pais expulsam filhos; casamentos terminam”, explica Jacira. Ela destaca ainda que não há “saída honrosa” para quem decide deixar as Testemunhas.
Falta de transparência nos casos de abuso sexual
Os dissidentes também exigem mudanças nas regras internas relacionadas ao julgamento dos abusadores dentro das congregações. Atualmente, é necessário pelo menos duas testemunhas para validar denúncias sobre pedofilia – condição considerada insuficiente pelos críticos.
Jacira afirma: “Se não houver confissão do agressor,ele permanece na organização”. Essa situação reforça o sentimento dos manifestantes sobre a necessidade urgente por justiça efetiva no tratamento desses crimes.
Liderança do movimento
O protesto foi organizado por Yann Rodrigues, profissional liberal expulso da comunidade aos 15 anos após romper com as crenças locais. Desde 2024 ele coordena o Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ), entidade dedicada à assistência daqueles prejudicados pela instituição religiosa.
Investigação oficial
Em 2019, o Ministério Público do Estado São Paulo abriu inquérito para apurar denúncias envolvendo abuso sexual infantil dentro das Testemunhas. A investigação também analisa supostas tentativas da associação em constranger vítimas e dificultar denúncias formais desses crimes.
Apesar dos pedidos reiterados pela imprensa local para esclarecimentos sobre essas questões graves, representantes oficiais no Brasil mantêm silêncio ou limitam suas respostas aos dias úteis sem maiores detalhes públicos até agora.
A doutrina das Testemunhas está presente em cerca de 240 países com aproximadamente 10 milhões fiéis distribuídos em quase 119 mil filiais pelo mundo – dados oficiais indicam sua ampla abrangência global apesar das controvérsias recentes apontadas pelos dissidentes brasileiros.
Conclusão
O protesto realizado evidencia um clamor crescente por transparência e respeito aos direitos humanos dentro dessa comunidade religiosa tradicionalmente fechada. A luta contra abusos sexuais encobertos internamente e práticas isolacionistas mostra-se basic para garantir dignidade às vítimas e seus familiares no país.
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