Um estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto do Sono, apresentado no Sleep 2024, nos Estados Unidos, revelou que a insônia não é apenas um sintoma secundário da depressão, mas sim uma parte basic dessa doença mental. A pesquisa analisou a relação entre o risco genético para distúrbios do sono e sintomas depressivos em uma amostra representativa do Estudo Epidemiológico do sono de São paulo,envolvendo pessoas entre 20 e 80 anos. Para isso,os participantes passaram por avaliação clínica detalhada,polissonografia noturna completa e responderam questionários específicos sobre o sono. Além disso, foram coletadas amostras de sangue para extração de DNA e genotipagem com o objetivo de calcular os riscos genéticos associados.
Insônia como componente central da depressão
A pesquisadora Mariana Moysés Oliveira destacou que a privação pontual de sono não aumenta o risco de desenvolver depressão; entretanto, a insônia crônica está diretamente relacionada ao agravamento dos sintomas depressivos. Estudos anteriores já indicavam que pacientes com sintomas graves de depressão e insônia apresentam menor resposta aos tratamentos convencionais e maior probabilidade de desenvolver quadros depressivos futuros. Segundo Mariana, as descobertas são inéditas ao mostrar que tanto a insônia quanto os sintomas da depressão compartilham origens genéticas muito semelhantes.
Relação genética entre problemas do sono e sintomas depressivos
Para identificar essa conexão genética profunda entre as duas condições foi utilizado um modelo estatístico chamado escore poligênico. Esse método avalia milhares de variantes genéticas simultaneamente para prever riscos em doenças complexas como essas. A análise baseada em estudos completos do genoma indicou que indivíduos com escores poligênicos elevados apresentaram maior propensão tanto para problemas no sono quanto para manifestações mais severas da depressão. Os genes envolvidos se sobrepuseram significativamente, confirmando uma forte correlação genética.
Implicações para saúde pública e tratamentos integrados
Mariana ressalta que esses resultados podem influenciar positivamente políticas públicas voltadas à identificação precoce desses transtornos por meio da análise genética combinada com avaliações clínicas tradicionais. O tratamento integrado das questões relacionadas à saúde mental e qualidade do sono pode ser mais eficaz na redução dos impactos sociais dessas condições crônicas. Além disso, usar dados genéticos permite antecipar quem está em risco antes mesmo dos primeiros sinais clínicos aparecerem.
Aspectos sobre fatores genéticos na manifestação das doenças
A pesquisadora explica ainda que as doenças mentais geralmente resultam da interação entre fatores ambientais ao longo da vida e predisposições genéticas presentes desde a concepção – estas últimas imutáveis durante toda a vida humana. O estudo conseguiu calcular diferentes níveis desse risco baseado no conjunto complexo das variações gênicas envolvidas nas duas condições estudadas.
“Não existe um gene único responsável pela insônia ou pela depressão”, afirma Mariana Oliveira ressaltando que milhares dessas variações contribuem conjuntamente para determinar o grau individual desse risco biológico.Perspectivas futuras: biomarcadores e tratamentos personalizados
Com base na amostra epidemiológica utilizada no estudo foi possível identificar variações específicas passíveis de serem usadas como biomarcadores capazes de indicar maior vulnerabilidade às doenças investigadas. Compreender essas conexões abre caminho para desenvolver terapias focadas nas causas reais dos transtornos – não apenas nos seus sintomas - diminuindo assim as chances recorrência ou recaídas após tratamento convencional.Conclusão
Este avanço científico reforça a importância da integração entre saúde mental e qualidade do sono nas estratégias clínicas atuais visando melhorar resultados terapêuticos contra a depressão associada à insônia crônica.
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