O acompanhamento de pacientes com diabetes deve ir além do controle da glicose, considerando o paciente como um todo para prevenir complicações cardiovasculares. O cardiologista Bruno bandeira, membro da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), destaca que as doenças cardíacas estão entre as principais consequências graves do diabetes, afetando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.O lançamento do manual “Diabetes e Doença Cardiovascular”, durante o 42º congresso de Cardiologia no Rio de Janeiro, traz orientações práticas para médicos na avaliação e tratamento integrado desses casos.
A importância da abordagem integrada no diabetes
O cuidado com diabéticos não pode se limitar à regulação dos níveis glicêmicos. Segundo Bruno Bandeira, o diabetes frequentemente está associado a outras condições como hipertensão arterial e colesterol elevado, fatores que aumentam os riscos de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal. Ele alerta que muitos pacientes só descobrem a doença quando já apresentam complicações graves.
Manual para profissionais da saúde
O manual organizado por Bandeira oferece uma visão ampla sobre diagnóstico, estratificação de risco e individualização terapêutica. Destinado especialmente aos médicos da atenção primária – primeiro contato dos pacientes com o sistema – ele orienta sobre avaliação clínica detalhada e rastreamento das complicações cardiovasculares mais comuns no diabetes. Além disso,auxilia na escolha adequada entre tratamentos farmacológicos ou cirúrgicos.
Novas perspectivas terapêuticas
A introdução recente de medicamentos inovadores tem transformado a forma como o diabetes é tratado. Conforme explica Bandeira, esses remédios vão além do controle glicêmico tradicional ao proteger órgãos vitais como coração e rins.
Medicamentos que protegem o coração
Entre os avanços estão os inibidores da SGLT2 (cotransportador sódico-glicose tipo 2) e os agonistas do GLP1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1). Esses fármacos atuam em múltiplos mecanismos biológicos simultaneamente - controlando a glicose enquanto reduzem riscos cardiovasculares importantes. Exemplos incluem empagliflozina e dapagliflozina; esta última já disponível gratuitamente pelo SUS para diabéticos acima dos 65 anos. Outro medicamento citado é a semaglutida, aplicada via subcutânea; além do controle glicêmico em diabéticos obesos também promove redução significativa no peso corporal.
Diabetes: um desafio global à saúde pública
Saulo Cavalcanti, subcoordenador do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforça que o diabetes permanece um problema grave mundialmente devido à alta mortalidade associada às suas complicações cardiovasculares.
Dados epidemiológicos recentes
No Brasil, cerca de 10% da população convive com essa condição crônica – aproximadamente 20 milhões segundo pesquisa Vigitel Brasil 2023 – número superior ao registrado em 2021 (9%). A prevalência é maior entre mulheres (11%) comparado aos homens (9%).O tipo 2 representa cerca de 90% dos casos diagnosticados; entretanto apenas metade desses pacientes sabe que tem a doença devido à ausência frequente sintomas iniciais.
Impacto social e necessidade urgente por prevenção
Cavalcanti destaca ainda dificuldades enfrentadas pela população: falta informação adequada sobre cuidados necessários; alto custo dos tratamentos modernos; baixa adesão às terapias prescritas pelos profissionais médicos. Essas barreiras dificultam controlar uma enfermidade sem cura definitiva mas passível manejo eficaz quando detectada precocemente.
Conclusão
A mudança na abordagem clínica para tratar pessoas com diabetes exige foco integral no paciente visando evitar problemas cardíacos severos associados à doença metabólica. A disseminação das novas diretrizes médicas aliada ao acesso ampliado aos medicamentos inovadores são passos essenciais nesse processo preventivo fundamental para reduzir sofrimento individual e impacto nos sistemas públicos brasileiros.
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