sábado, junho 21, 2025
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Culinária amazônica: quando o excesso de sabor vira risco à saúde

A culinária amazônica é um símbolo de identidade e resistência, marcada por sabores e receitas transmitidas de geração em geração. No entanto, o manuseio e o preparo de certos alimentos, como salgados e defumados, servidos à população, podem representar um risco à saúde, caso sejam consumidos em excesso.

Segundo Robert Pinho, doutorando em História pela Universidade Federal do Amazonas, a culinária amazônica reflete conhecimentos e práticas ancestrais, fruto de milênios de interação entre os povos originários e a natureza.

“A alimentação, que é uma dimensão humana tão comum, carrega a permanência dos hábitos, dos costumes e das escolhas alimentares feitas por mulheres e homens ao longo do processo de construção do que hoje chamamos de Amazônia”, destaca o historiador.

A dona de casa Rosângela Silva afirmou ao Em Tempo que não abre mão de alimentos tradicionais, mas que mantém atenção ao consumo excessivo.

“Gosto muito de peixe, de todo jeito, sempre que posso eu compro. É um hábito da região que eu consumo, e não me vejo abrindo mão. Mas não tenho certeza se ele é saudável quando preparado de outros jeitos. Eu gosto mais de fritar na frigideira”, contou.

Já o aposentado Paulo Reis mantém bastante atenção aos alimentos que consome, por conviver com uma doença crônica.

“Como eu não posso comer qualquer coisa, eu tento comer alimentos mais naturais, um suco, tudo o que for natural, não quero comprometer ainda mais minha condição”, disse.

Riscos à saúde nos hábitos tradicionais

Foto: Reprodução

Apesar de seu valor cultural, os hábitos alimentares da região, como o consumo frequente de peixe salgado, grandes quantidades de farinha e alimentos ultraprocessados, requerem atenção. Esses alimentos, quando consumidos de forma inadequada, podem aumentar o risco de doenças gástricas, como alerta o gastroenterologista Marcelo Tapajós, da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon).

“O consumo de peixes salgados ou defumados pode aumentar a formação de substâncias cancerígenas no estômago. Por outro lado, o peixe fresco, cozido ou grelhado tem efeito protetor. […] A farinha não é diretamente um causador do câncer gástrico, porém fatores na sua fermentação, conservação, além do consumo exagerado, podem levar a um processo inflamatório crônico no estômago que, associado a outros fatores, como principalmente a bactéria Helicobacter Pylori, podem ocasionar o câncer gástrico“, explica o especialista.

Dados alarmantes no Amazonas

Foto: Arquivo FCecon

Nos últimos dois anos, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou que o Amazonas registra aproximadamente 440 novos casos de câncer gástrico anualmente, sendo 290 em homens e 150 em mulheres. A doença é a segunda principal causa de câncer entre homens e a quinta entre mulheres no estado, colocando a região entre as mais afetadas do Brasil.

Apesar da falta de dados recentes do Registro Hospitalar de Câncer (RHC), especialistas apontam a alimentação como um fator significativo nesses índices elevados.

Adaptando tradição e saúde

Foto: Divulgação/Amazonastur

Conciliar uma dieta saudável com a tradição culinária amazônica pode ser desafiador, mas é possível. A nutricionista clínica Vanessa Pollari sugere formas de preparar peixes salgados e defumados que reduzem os riscos sem comprometer o sabor.

“É possível preparar peixes salgados e defumados de forma mais saudável, sem abrir mão do sabor regional. A questão está em escolher métodos de preparo que reduzam a quantidade de gordura e sal adicionados, e equilibrar o consumo com outros alimentos nutritivos”, destacou a profissional.

Para Tapajós, a chave está no bom senso:

“Acredito no bom senso, evitando o consumo frequente dos alimentos de maior risco e priorizando alimentos saudáveis, desta forma não abandonando necessariamente os hábitos regionais. Campanhas para educação alimentar de baixo custo, apoio à alimentação escolar, são boas estratégias.”

Aliados da saúde

Foto: Reprodução/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

Anny Melo, nutricionista, destaca o papel protetor de alimentos regionais, como açaí, frutas nativas e vegetais amazônicos, contra doenças.

Alimentos regionais como o açaí, frutas nativas e vegetais amazônicos têm um papel importante na prevenção de doenças e são altamente benéficos para a saúde digestiva. […] Esses alimentos são ricos em nutrientes que favorecem a digestão, como fibra, antioxidantes e vitaminas, e podem atuar de maneira protetora contra doenças intestinais, como a constipação e até mesmo o câncer gastrointestinal”, pontua.

Ela também sugere práticas alimentares simples para preservar a saúde gástrica:

  • Aumentar o consumo de frutas e vegetais frescos, como laranja, acerola, jambu e brócolis, ricos em antioxidantes e vitaminas.
  • Reduzir alimentos processados e salgados, priorizando proteínas saudáveis, como peixes frescos e leguminosas.
  • Consumir fibras, presentes em cereais integrais, frutas e legumes, para melhorar o trânsito intestinal.
  • Beber chá-verde, que contém catequinas com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

Equilíbrio

Foto: Reprodução/Amazonastur

Preservar a culinária amazônica é essencial para a identidade regional, e pequenos ajustes podem contribuir significativamente para a promoção da saúde digestiva da população.

Leia mais: Sabores da Amazônia são destaque em premiação nacional de gastronomia

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