Aumento de registros de desaparecimento no AM evidencia problema complexo que envolve desde descuido e vulnerabilidade familiar até situações de violência e exploração
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) mostram que, em 2024, 453 crianças e adolescentes de 0 a 17 anos desapareceram. Até outubro de 2025, já foram registrados 449 casos nessa faixa etária e, com ainda dois meses restantes para finalizar o registro anual, os números devem superar os do ano anterior.
Foto: Dados disponibilizados pela SSP-AM sobre desaparecidos no AM
O aumento de registros de desaparecimento no Amazonas evidencia um problema complexo que envolve desde descuido e vulnerabilidade familiar até situações de violência e exploração. Segundo o sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas, Luiz Antônio Nascimento, grande parte dos casos está ligada a fatores sociais e familiares.
“Uma parte das pessoas em condições de desaparecimento tem problemas de saúde mental. Perde o laço, perde a perspectiva de onde está. Agora, a maioria das pessoas saem de casa, elas desaparecem porque as condições existenciais delas naquele lugar, naquela casa, são horrorosas. É muito comum jovens e adolescentes sumirem, desaparecerem, como a única forma de interromper violência e abuso sexual. É a única forma de interromper agressão física. É a única forma de interromper a opressão que essas pessoas sofrem”, explica Nascimento.
O professor também destaca que o desaparecimento de crianças é frequentemente resultado de descuido dos adultos ou de situações de abandono.
“O desaparecimento de crianças é resultado de duas equações. A primeira é o descuido: a falta de atenção dos adultos em relação às crianças é muito frequente. Há também outro elemento que precisa ser considerado, que é a condição de criação daquela criança. Não tenho elementos para mensurar isso, mas não duvido que parte dessas crianças tenha sido abandonada e registrada como desaparecida junto às autoridades policiais e à família. O problema central é que não existe um programa ou uma política pública clara e eficiente para produzir dados estatísticos, sociais e socioeconômicos desse perfil”, complementa.
Casos notórios de desaparecimentos
Foto: Cinthia Gama, desaparecida desde 2016/Reprodução
Casos emblemáticos reforçam a gravidade do tema. A menina Cinthia da Gama Pereira, de 12 anos, desapareceu em outubro de 2016, enquanto ia buscar o irmão mais novo na escola, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus. Familiares organizaram uma caminhada em busca de visibilidade para o caso, distribuindo panfletos e cobrando mais agilidade nas investigações.
Foto: Shara Ruana, desaparecida desde 2007/Reprodução
Outro caso emblemático é o de Shara Ruana Nascimento Reis, que desapareceu em 2007, aos sete anos, no bairro Betânia, Zona Sul. Apesar das buscas intensas, incluindo o uso de cães farejadores, o paradeiro da criança segue desconhecido após 18 anos.
Paredão
Foto: Sistema Paredão/Alex Pazuello e Diego Peres/Secom.
Para auxiliar na busca, a deputada estadual Mayra Dias (Avante) propôs a ampliação do sistema de videomonitoramento “Paredão”, que já é usado para identificar criminosos. O objetivo é integrar a tecnologia aos bancos de dados da Polícia Civil, do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas e de hospitais, agilizando a localização de desaparecidos.
“O ‘Paredão’ já ajuda a identificar criminosos e a prevenir delitos. Essa tecnologia também precisa servir à vida, ajudando a encontrar pessoas desaparecidas e aliviar o sofrimento de tantas famílias amazonenses”, afirma a deputada.
Em casos de desaparecimento, a Polícia Civil do Amazonas reforça que não é necessário aguardar 24 horas para registrar a ocorrência. Basta procurar qualquer delegacia com documentos pessoais, uma foto atualizada e informações sobre o último local em que a pessoa foi vista. Denúncias também podem ser feitas pelos números 3667-7713 (Deops), 197 ou 3667-7575 (PC-AM).
Adolescente desaparece no bairro Compensa
Foto: Divulgação/PC-AM
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) divulgou a imagem de Samanta de Souza Tavares de Albuquerque, de 16 anos, que está desaparecida desde o dia 14 de novembro, por volta das 9h, quando foi vista pela última vez na rua União, bairro Compensa, Zona Oeste de Manaus.
Quem tiver informações sobre o paradeiro de Samanta de Souza Tavares de Albuquerque pode entrar em contato pelos números (92) 99962-2441, da Depca; 197 ou (92) 3667-7575, da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM); ou 181, da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).
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