terça-feira, dezembro 9, 2025
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Automedicação em Manaus: perigos de comprar remédios de ambulantes

Pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) revelou que nove em cada dez brasileiros — ou 90% da população — tomam medicamentos sem prescrição

Uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), realizada em 2024, revelou que nove em cada dez brasileiros — ou 90% da população — tomam medicamentos sem prescrição médica. O Ministério da Saúde alerta que, em 2022, mais de 14 mil pessoas foram internadas por intoxicação medicamentosa, um aumento de 18% em relação ao ano anterior.

Em Manaus, o problema se intensifica com a venda de medicamentos por ambulantes, que oferecem os produtos sem receita. A prática alimenta o ciclo da automedicação e aumenta os riscos à saúde, especialmente entre quem busca soluções rápidas sem orientação profissional.

À reportagem do Em Tempo, a médica Raquel Azulay, da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), destacou os perigos.

“A automedicação pode mascarar doenças graves, dificultando o diagnóstico e o tratamento adequados, o que pode resultar na agravamento do quadro clínico e, em casos mais severos, levar ao óbito”, disse.

Risco crescente à saúde pública

Foto: Duílio Cândido

Mesmo cientes dos riscos, muitos moradores continuam comprando medicamentos de ambulantes em locais movimentados, como o Centro da cidade e os terminais de ônibus.

Uma dona de casa, que preferiu manter anonimato, contou ao Em Tempo que já adquiriu remédios de um ambulante no Terminal de Integração 2, bairro Cachoeirinha, para aliviar uma dor de cabeça.

“Queria resolver minha dor de cabeça chata, achei que não ia ter problema. Na hora, não me preocupei, não senti nada, mas eu sei que não é certo”, relatou.

Os ambulantes circulam oferecendo preços mais baixos, sem considerar os impactos na saúde dos consumidores.

“A venda irregular de medicamentos representa um grave risco à saúde pública, pois favorece o uso inadequado de substâncias, aumenta os casos de superdosagem e pode agravar doenças em vez de tratá-las”, alertou Azulay.

Consciência popular

Foto: Edna em entrevista ao Em Tempo/Reprodução

Nem todos confiam na venda de medicamentos por ambulantes, já que a procedência dos produtos é desconhecida. O Em Tempo percorreu o Centro de Manaus e conversou com moradores sobre os perigos da automedicação e da compra de remédios em locais sem garantia de origem.

“Alguns pode ser bons, pode fazer efeito, mas a gente não sabe a fabricação, onde foi fabricado isso, quem está fabricando esses medicamentos? Pode ser até falsificado também. Muitas vezes as pessoas vêm por conta do preço. Aqui tem muita venda, tem muita diferença de preço da drogaria para os ambulantes, alguns vendem baratos, vendem em preço razoável”, relatou Edna, moradora da região.

Foto: Sérgio em entrevista ao Em Tempo/Reprodução

O aposentado Sérgio lembra que, mesmo conhecendo os riscos, muitos continuam comprando. “É errado né, o pessoal gosta de comprar, fazer o quê?”, disse.

Foto: Valdeniza Araújo em entrevista ao Em Tempo/Reprodução

Na avenida Eduardo Ribeiro, a industriária Valdeniza Araújo destacou que a situação financeira também influencia a decisão de recorrer a ambulantes.

“Depende muito da situação financeira de cada pessoa que está precisando, às vezes ela não tem condições, ela vai optar por onde é mais em conta, mais barato”, explicou.

Foto: Alísio em entrevista ao Em Tempo/Reprodução

Na avenida Sete de Setembro, o funcionário público Alísio Ribeiro criticou a prática e alertou para os riscos.

“Eu acredito que o preço pode até sair mais em conta, mas o risco é muito alto porque está em jogo a questão da saúde, então aquela questão, pode sair caro, porque pode ser muito prejudicial à saúde, não vai valer a pena essa compra”, afirmou.

Preocupação médica

Foto: Reprodução

Para quem insiste em adquirir medicamentos de forma ilegal, Dra. Raquel Azulay alerta sobre sinais que exigem atenção imediata.

“Sinais como reação alérgica (coceira, inchaço ou vermelhidão na pele), sudorese intensa, dificuldade para respirar (dispneia) e rebaixamento do nível de consciência indicam a necessidade de procurar atendimento médico imediato”, descreveu.

Política pública

Foto: Marcelo Araújo/Assessoria

Em março, vereadores da Câmara Municipal de Manaus discutiram um Projeto de Lei que proíbe a venda de medicamentos fora de estabelecimentos autorizados, incluindo camelódromos e ambulantes.

De autoria do vereador Marcelo Serafim (PSB), o projeto busca regularizar a comercialização de remédios e garantir a segurança da população.

“É um projeto que visa proteger a sociedade contra a venda clandestina de medicamentos. Hoje, uma drogaria tem que ter um responsável técnico. Um farmacêutico precisa responder a inúmeras regras da legislação e vemos, em Manaus, inúmeras pessoas em camelódromos, ambulantes, dentro dos terminais de ônibus, por exemplo, vendendo medicamentos de forma clandestina”, explicou Serafim.

Orientação e prevenção

Foto: Divulgação

Para levar informação diretamente ao público, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto realizou, recentemente, uma palestra sobre o perigo da automedicação na Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (Fuham).

O objetivo foi orientar sobre o uso racional de medicamentos, reforçando que a segurança depende de prescrição adequada, acesso oportuno e uso correto.

Para a diretora-presidente da FVS-RCP, Tatyana Amorim, levar informações aos usuários é crucial.

“A informação é uma ferramenta poderosa na prevenção de riscos à saúde. Quando o cidadão compreende os perigos da automedicação, ele se torna protagonista no cuidado com sua própria saúde”, afirmou.

Eurenice Neves, gerente de Insumos Estratégicos da FVS-RCP, destacou a importância da ação.

“A educação em saúde sobre o uso racional de medicamentos é fundamental para promover a segurança do paciente e melhorar a qualidade da atenção à saúde”, disse.

A palestra também abordou o descarte correto de medicamentos e insumos vencidos, incentivando práticas sustentáveis no cotidiano.

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