O Consulado-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro destinou, na terça-feira (10), US$ 295 mil ao Instituto AfrOrigens para apoiar ações de conservação dos destroços do brigue Camargo, o último navio escravista a desembarcar africanos escravizados no Brasil em 1852. A embarcação está naufragada desde então no litoral de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. O investimento faz parte do fundo dos Embaixadores dos Estados Unidos para Preservação cultural (AFCP), que financia projetos voltados à preservação do patrimônio cultural global.
Investimento e atividades previstas
Os recursos concedidos pelo AFCP serão aplicados ao longo de três anos em um projeto que inclui atividades de arqueologia subaquática,como o mapeamento em 360 graus do sítio arqueológico onde o brigue está naufragado. Além disso, haverá identificação e estudo das estruturas e artefatos encontrados, com análises históricas detalhadas para garantir a preservação adequada.
Proteção da memória quilombola
Em terra, o projeto também visa proteger a memória da comunidade quilombola Santa Rita do Bracuí, formada por descendentes dos africanos escravizados trazidos por navios como o Camargo. As ações contemplam a sinalização de locais históricos relevantes na região – incluindo porto clandestino, cemitério de escravizados e estruturas da antiga fazenda receptora – além da documentação e conservação desses pontos.
Participação da comunidade local
Segundo informações do consulado americano, membros quilombolas foram formalmente contratados para atuar diretamente nas atividades desenvolvidas pelo projeto. Eles receberão treinamento em técnicas diversas como iniciação à arqueologia, mergulho submarino e produção audiovisual. O objetivo é capacitar esses participantes para transformar os resultados obtidos em recursos sustentáveis que beneficiem economicamente a comunidade local.
Luis Felipe Santos, presidente do AfrOrigens, destacou que esse reconhecimento fortalece não apenas a luta por direitos territoriais mas também valoriza a identidade cultural afrodescendente. Ele ressaltou ainda que o uso sustentável desse patrimônio histórico cria oportunidades reais para geração contínua de renda na região.
Fundo dos Embaixadores: origem e importância
Criado pelo Departamento de Estado dos EUA em 2001 com foco na salvaguarda do patrimônio cultural mundial,o Fundo dos Embaixadores surgiu diante das ameaças causadas por conflitos armados,desastres naturais e processos acelerados pela globalização. Por meio da concessão de subsídios financeiros direcionados a comunidades locais e organizações culturais ao redor do mundo, ele promove restaurações históricas importantes assim como incentiva práticas culturais tradicionais.
No Brasil já foram beneficiados dez sítios históricos até hoje pelo programa AFCP.Um exemplo recente ocorreu em 2018 quando foi destinado meio milhão de dólares para preservar o Cais do Valongo no Rio - maior porto preservado ligado ao desembarque forçado aproximado de um milhão de africanos escravizados nas Américas.
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