Em julho, em Manaus (AM), a indígena Hindra Yetunã, mãe de três estudantes da Escola Municipal Raimundo Teodoro Botinelly Assumpção, denunciou uma professora por discriminação racial. A educadora teria se referido aos grafismos pintados no corpo dos jovens como “coisa de galeroso”, expressão pejorativa que associa os desenhos a comportamentos negativos. O caso expõe o racismo enfrentado por povos indígenas mesmo dentro do ambiente escolar.
Identidade e resistência nos grafismos indígenas
Os grafismos indígenas são elementos fundamentais da identidade cultural e étnica dos povos originários do Brasil. Essas pinturas tradicionais apresentam linhas e formas geométricas que podem ser aplicadas tanto em objetos quanto na pintura corporal, carregando histórias e simbolizando pertencimento.
De acordo com dados do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país conta com cerca de 1,7 milhão de indígenas distribuídos em 266 etnias que falam mais de 160 línguas diferentes. Apesar dessa diversidade cultural rica, esses grupos ainda enfrentam preconceito em espaços urbanos e educacionais.
Para Rosimere Arapaço, vice-coordenadora da Makira-E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas, os grafismos são símbolos vivos da resistência dos povos indígenas. Ela destaca que as pinturas são feitas com tintas naturais extraídas de plantas, cascas ou sementes e duram entre 15 a 20 dias. Cada traço possui um significado único ligado à identidade pessoal e coletiva.
As pinturas também diferenciam clãs e gêneros dentro das comunidades: “As mulheres têm papel fundamental como guardiãs dessas tradições”, explica Rosimere. Elas são responsáveis pela preservação das técnicas ancestrais e pela transmissão desse conhecimento às novas gerações, fortalecendo os laços entre aldeias.
Racismo estrutural nas escolas
apesar da obrigatoriedade prevista na Lei 11.645/2008 para o ensino da história afro-brasileira e indígena nas escolas brasileiras, episódios como o denunciado por Hindra Yetunã revelam a persistência do racismo institucional contra estudantes indígenas.
A mãe relata que seus filhos ficaram envergonhados após serem alvo do comentário discriminatório dentro da escola: “Eles sentiram medo diante daquela situação”. Segundo ela, muitas instituições não estão preparadas para lidar com a diversidade cultural devido à falta de formação adequada dos professores, recursos insuficientes ou resistência às mudanças necessárias no ambiente escolar.
Rosimere arapaço reforça essa análise ao afirmar que casos assim refletem não apenas despreparo docente mas também incitam violência contra alunos indígenas: “A desvalorização dos grafismos evidencia um racismo estrutural presente diariamente nesses espaços”. Ela cita ainda situações semelhantes ocorrendo em hospitais, cartórios ou delegacias – locais onde deveriam haver proteção – mas onde frequentemente ocorre revitimização das populações originárias.
Educação antirracista como caminho para inclusão
Para enfrentar esse cenário desigual é fundamental investir em campanhas educativas focadas na valorização das culturas indígenas dentro das escolas públicas e serviços governamentais. Rosimere defende uma educação antirracista capaz de criar ambientes seguros para acolher todas as diversidades culturais presentes no Brasil contemporâneo.
Essa transformação exige compromisso político-institucional aliado à conscientização social sobre a importância histórica desses povos para o país – especialmente quando se trata do respeito aos símbolos identitários expressos nos grafismos corporais tradicionais.
Conclusão
O episódio envolvendo os estudantes na Zona Norte mostra como o preconceito ainda atravessa as relações cotidianas mesmo diante das garantias legais existentes. É urgente ampliar ações educativas voltadas ao reconhecimento pleno das culturas indígenas nas escolas amazonenses para garantir respeito à diversidade étnica local.
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