Manaus (AM) – Puxados pela cheia dos rios e pela perda de parte da produção agrícola nas áreas de várzea, os preços de hortaliças, frutas e outros alimentos regionais começam a subir no Amazonas. Embora a cheia de 2025 não tenha provocado impactos diretos no comércio da capital, segundo avaliação da Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL-Manaus), os reflexos no campo já se fazem sentir nas prateleiras.
De acordo com o presidente da entidade, Ralph Assayag, o setor lojista mantém estabilidade em Manaus, mas monitora com atenção os impactos da cheia sobre a produção agrícola do interior. As áreas alagadiças, onde se concentram cultivos de cheiro-verde, couve, alface e melancia, foram parcialmente inundadas, o que afetou a oferta desses produtos no mercado.
“Não tivemos problema direto com a cheia em Manaus, mas os preços de alguns hortifrutis subiram porque parte das plantações nas áreas alagáveis foi comprometida. Felizmente, como já se sabia que essas regiões seriam atingidas, o plantio foi reduzido preventivamente. A expectativa agora é que, com a vazante, essas várzeas voltem a produzir em grande escala”, explicou Assayag.
Interior mais afetado
O impacto maior da cheia foi sentido em municípios do interior do estado, onde mais de 500 mil pessoas foram diretamente afetadas, segundo dados da Defesa Civil. Os produtores rurais, especialmente os que vivem em áreas ribeirinhas, enfrentaram perdas nas plantações e dificuldade no escoamento da produção.
Apesar disso, a CDL-Manaus aponta que a cheia não chegou a comprometer o abastecimento de forma generalizada. “São áreas localizadas e, em muitos casos, a Defesa Civil já havia feito o levantamento de risco. O problema mais sério, na nossa avaliação, será a seca severa prevista para os próximos meses, que pode isolar comunidades e dificultar o transporte de mercadorias”, alertou Assayag.
Transição climática
Com o fim do período chuvoso, o Amazonas entra agora na fase de transição para o chamado verão amazônico, caracterizado por temperaturas elevadas e menor volume de chuvas. Essa mudança deve contribuir para a redução do nível dos rios e a recuperação das áreas alagadas.
Por outro lado, o período seco pode trazer novos desafios logísticos, especialmente para o interior. A baixa dos rios costuma limitar o transporte fluvial, o que encarece o frete e, consequentemente, os produtos. “A oscilação de preços deve continuar ao longo dos próximos meses. Se a seca for muito severa, o acesso às comunidades produtoras será um gargalo ainda maior”, avaliou Assayag.
Monitoramento preventivo
Em Manaus, a CDL mantém parceria com o Centro de Monitoramento do Exército (CIPAM) para acompanhar o nível dos rios. A ferramenta ajuda o setor comercial a antecipar medidas em caso de alagamentos. “Temos um sistema que mostra, centímetro a centímetro, até onde a água pode subir e quais áreas podem ser afetadas. Isso nos dá segurança e ajuda a evitar prejuízos”, concluiu.
A expectativa do setor é que, com a chegada da estiagem, as áreas de várzea voltem a ser utilizadas em larga escala para o cultivo de alimentos, o que deve estabilizar os preços até o final do ano.
Medidas
O governador Wilson Lima (UB) apresentou uma série de medidas para o fortalecimento do setor comercial, com destaque para o enfrentamento dos impactos da estimativa e o estímulo à economia local, por meio da antecipação do pagamento da primeira parcela do 13º salário dos servidores estaduais.
Somente em junho, a folha complementar do 13º salário vai injetar R$ 1,5 bilhão na economia do estado. Mais de 82 mil servidores ativos, além de aposentados e pensionistas, recebem os valores este mês. Outra medida destacada pelo governador foi o repasse de R$ 225 milhões, de janeiro a maio, por meio do Auxílio Estadual Permanente, beneficiando milhares de famílias e movimentando o comércio nas áreas mais afetadas pela cheia.
Com o objetivo de mitigar os impactos financeiros causados pela estimativa severa, o governador Wilson Lima já determinou à Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) que estude a ampliação dos prazos para recolhimento de tributos. A proposta visa aliviar a carga tributária das empresas e garantir a manutenção da atividade econômica no estado.
“O comércio é o maior arrecadador de ICMS do estado e teve um faturamento significativo, no ano passado, de R$ 300 bilhões. É importante termos esse contato, mostrar o que o governo está fazendo e mais uma vez se colocar à disposição para enfrentar, principalmente, os extremos climáticos, um exemplo do que aconteceu em 2023 e 2024, anos em que enfrentamos diversas secas, mas a partir do diálogo podemos amenizar o sofrimento do empresário e, também, dar melhores oportunidades para o consumidor”, destacou o governador Wilson Lima.
A reunião conto com a participação do deputado estadual Adjuto Afonso; do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota; do presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Antonio Silva; do desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (TRT), Audaliphal Hildebrando; do presidente da Associação Comercial do Amazonas (ACA), Bruno Pinheiro; e do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea), Muni Lourenço.
O governador também reforçou a importância da parceria com a Fecomércio-AM na consolidação de dados e indicadores sobre o setor. O alinhamento entre Estado e setor produtivo é considerado estratégico para manter o Amazonas como um dos principais polos de geração de emprego e arrecadação da Região Norte.
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