Casos de hepatite Delta entre ribeirinhos no sul do Amazonas têm chamado a atenção das autoridades de saúde e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Desde junho de 2023, uma equipe do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia, junto com profissionais da saúde em Lábrea, município localizado a 706 quilômetros de Manaus, acompanha comunidades ribeirinhas para diagnosticar e monitorar essa doença silenciosa e agressiva. Segundo dados locais, cerca de 1.400 casos foram notificados na cidade, mas apenas 140 pacientes estão em acompanhamento clínico.
Hepatite Delta: um desafio para o Amazonas
A hepatite Delta é considerada o tipo mais agressivo entre as hepatites virais. Ela pode não apresentar sintomas iniciais e está associada ao desenvolvimento rápido de cirrose hepática – às vezes em até dois anos após a infecção – além do risco aumentado para câncer no fígado e morte.Quando os sintomas aparecem, os mais comuns são cansaço, tontura, náuseas, vômitos, febre, dor abdominal intensa e icterícia (pele e olhos amarelados), acompanhados por urina escura e fezes claras.
De acordo com o Ministério da Saúde, a principal forma de prevenção é a vacina contra hepatite B. A transmissão ocorre por meio do contato sexual sem preservativo com pessoas infectadas; transmissão vertical durante gestação ou parto; compartilhamento de seringas ou outros materiais usados para consumo de drogas; uso comum inadequado de objetos pessoais que possam causar cortes como lâminas ou alicates; além dos riscos associados à tatuagem ou colocação inadequada de piercings sem normas adequadas.
Diagnóstico nas comunidades ribeirinhas
Em Lábrea, pesquisadores visitaram as comunidades ribeirinhas Várzea Grande e Acimã localizadas às margens do Rio Purus. Durante dois dias foram realizados testes rápidos combinados com exames laboratoriais focados no diagnóstico das hepatites virais – especialmente na detecção da hepatite delta. Dos 113 moradores atendidos nessas localidades remotas, 16 receberam diagnóstico positivo para a doença.
As amostras coletadas são enviadas à Fiocruz Rondônia para processamento detalhado por meio do método molecular desenvolvido pelo próprio laboratório que quantifica o vírus HDV (causador da hepatite delta). Pacientes diagnosticados recebem acompanhamento pela equipe local em Lábrea juntamente com suporte clínico oferecido pelo Ambulatório especializado em Hepatites Virais.
Panorama epidemiológico nacional
Segundo o Boletim Epidemiológico sobre Hepatites Virais divulgado em 2023 pelo Ministério da Saúde entre os anos 2000 e 2022 foram registrados no Brasil um total de 4.393 casos confirmados dessa doença viral rara porém grave. A região Norte concentra a maior parte dos registros (73%), seguida pelas regiões Sudeste (11%), Sul (6%), Nordeste (6%) e Centro-Oeste (3%). Em 2022 houve registro oficial de 108 novos diagnósticos,sendo que mais da metade ocorreu na Região Norte.
Testes moleculares: avanço necessário
Um dos principais desafios enfrentados pela rede pública é realizar testes eficazes capazes não só identificar se houve contato prévio com o vírus mas também medir sua carga viral ativa no organismo – informação essencial para definir tratamentos adequados aos pacientes infectados pela hepatite Delta.
Atualmente os exames disponíveis via Sistema Único de Saúde indicam apenas exposição passada ao vírus sem informar se ele está ativo ou replicando-se dentro do corpo humano. Para suprir essa lacuna técnica foi desenvolvido pelo Laboratório Molecular da Fiocruz Rondônia um teste específico capaz quantificar diretamente o HDV nos pacientes atendidos nos estados amazônicos como Rondônia e acre – tecnologia ainda não incorporada oficialmente ao SUS.
Tratamento disponível
Embora não exista cura definitiva contra a hepatite Delta atualmente reconhecida pelos órgãos oficiais brasileiros há terapias voltadas ao controle dos danos causados ao fígado visando evitar evolução rápida das complicações graves associadas à infecção crônica desse vírus agressivo.
O tratamento é oferecido gratuitamente pelo SUS incluindo medicamentos específicos aliados à orientação médica rigorosa quanto à abstinência total do consumo alcoólico durante todo período assistencial devido aos efeitos nocivos potencializados sobre o órgão comprometido pela doença viral hepática.
Conclusão
Os números alarmantes revelam uma situação preocupante nas áreas ribeirinhas amazônicas onde poucos pacientes recebem acompanhamento adequado apesar das altas taxas notificadas anualmente. O avanço tecnológico proporcionado pelos testes moleculares desenvolvidos pela Fiocruz representa importante passo rumo ao diagnóstico precoce fundamental para melhorar prognósticos futuros desses indivíduos vulneráveis na região sul do Amazonas.
Acompanhe as atualizações da matéria e outras reportagens relevantes no Portal Notícias do Amazonas e fique sempre bem informado com as notícias de Manaus e região!
