Com 192 jornalistas mortos desde outubro de 2023, conflito em Gaza bate recorde histórico de violência contra a imprensa
A morte de seis jornalistas no domingo, sendo cinco da rede al-Jazeera, na Cidade de Gaza, reforçou o cenário alarmante de violência contra a imprensa no conflito em curso. Desde outubro de 2023, 192 jornalistas morreram, segundo o Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ) — número quase três vezes maior do que o registrado nas duas Guerras Mundiais.
Diante das crescentes críticas internacionais, Israel avalia permitir a entrada de imprensa estrangeira em Gaza. Ao mesmo tempo, acusa jornalistas mortos de ligação com o Hamas, sem apresentar provas concretas.
Correspondente Anas al-Sharif é uma das vítimas
Entre os mortos no ataque de domingo está o jornalista Anas al-Sharif, conhecido correspondente da al-Jazeera. Ele foi acusado por Israel de integrar a ala militar do Hamas, mas sem qualquer evidência pública.
Em julho, Anas declarou ao CPJ:
“Tudo isso acontece porque minha cobertura dos crimes da ocupação israelense na Faixa de Gaza os prejudica e mancha sua imagem no mundo. Eles me acusam de terrorista porque a ocupação quer me assassinar moralmente”.
‘Cemitério de notícias’
Desde os ataques do Hamas a Israel, em outubro de 2023 — que mataram cerca de 1.100 pessoas —, a ofensiva militar em Gaza resultou em 192 jornalistas mortos, segundo o CPJ. Autoridades sanitárias de Gaza apontam 238 mortos no total. Além disso, Israel prendeu 90 jornalistas, sendo o segundo país que mais aprisionou profissionais da mídia no último ano, atrás apenas da China.
De acordo com o Projeto Custos da Guerra, da Universidade Brown (EUA), jamais tantos jornalistas morreram em um único conflito armado na História moderna. Para efeito de comparação:
69 jornalistas morreram nas duas Guerras Mundiais
71 nas guerras dos EUA no Vietnã, Camboja e Laos
19 desde o início da guerra na Ucrânia (fev. 2024)
O relatório conclui:
“Todos mataram jornalistas e ajudaram a fomentar uma cultura de impunidade, transformando zonas de conflito como Síria e Gaza em ‘cemitérios de notícias’”.
ONGs denunciam massacre e bloqueio midiático
Desde o início do conflito, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou quatro denúncias formais contra Israel no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. A organização acusa o governo israelense de promover um massacre sem precedentes de jornalistas, que permanece impune.
A RSF e diversas entidades de direitos humanos exigem o fim do bloqueio à entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, imposto desde outubro de 2023.
Segundo Thibaut Bruttin, diretor-geral da RSF:
“O bloqueio midiático imposto sobre Gaza, com o massacre de quase 200 jornalistas pelo exército israelense, facilita a destruição total do enclave sitiado, bem como seu apagamento. […] Trata-se de uma tentativa metódica de sufocar os fatos, calar a verdade, isolar a imprensa palestina — e com ela, a população.”
Israel promete liberar entrada de imprensa, mas sob censura
Durante coletiva no domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que orientou o Exército a levar mais jornalistas estrangeiros para Gaza, para mostrar as ações de Israel, incluindo a entrega de ajuda humanitária.
Organizações internacionais, como a ONU, afirmam que o sistema de ajuda liderado por uma fundação financiada pelos EUA é ineficiente e mortal para civis.
Embora Israel tenha permitido a entrada de jornalistas em ocasiões anteriores, o acesso foi limitado a algumas horas e o material passou por censura oficial. Por isso, analistas e organizações seguem céticos quanto à promessa de liberdade de imprensa no território.
(*) Com informações do OGlobo
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