Amazonas marca presença com suas autoridades, apresentando ações que buscam conciliar desenvolvimento e sustentabilidade
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, reúne lideranças globais para discutir metas de mitigação, adaptação e financiamento climático. Embora o evento ocorra no Pará, o Amazonas marca presença com suas autoridades, apresentando ações que buscam conciliar desenvolvimento e sustentabilidade no coração da Amazônia.
Segundo o Dr. Sérgio Gonçalves, chefe do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a COP30 representa uma oportunidade estratégica para fortalecer a agenda climática, especialmente em nosso Estado.
“A COP30 traz várias implicações diretas e estratégicas para o estado do Amazonas, por exemplo: visibilidade internacional de atividades desenvolvidas no estado do Amazonas, troca de experiências como incentivo ao reforço de políticas públicas com foco regional/subnacional”, destacou o profissional.
Na primeira semana oficial da COP30, autoridades do Amazonas participaram de debates que têm como objetivo apresentar ao mundo os projetos e ações realizadas na capital e no interior, atraindo atenção para as cidades da região amazônica.
Bioeconomia e transição energética
Foto: Bioeconomia no Amazonas/Priscila Tapajowara
Uma das formas de destacar o Amazonas é investir em ações que preservem o meio ambiente, sem comprometer o desenvolvimento da região.
“Diante de inúmeras possibilidades, o Amazonas pode posicionar-se como ‘hub da bioeconomia amazônica’, para investimento em pesquisa, turismo, bioprodutos, parcerias com empresas que querem cadeias sustentáveis e ‘zero desmatamento’”, ressaltou Dr. Sérgio Gonçalves.
Nesse contexto, durante a COP30, o governador do Amazonas, Wilson Lima, lançou o Plano Estadual de Bioeconomia e a Política Estadual de Transição Energética (PETEN), dois marcos estratégicos que consolidam um novo ciclo de desenvolvimento sustentável no estado.
As entregas foram acompanhadas da apresentação de portfólios da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que reúnem resultados de pesquisa e investimentos em inovação voltados à sustentabilidade e à adaptação às mudanças climáticas.
Segundo a autoridade, o Plano de Bioeconomia serve de guia para orientar as ações do Estado nas próximas décadas, resultado de um processo de escuta e construção coletiva com todos os municípios.
“Nós fizemos consultas em todos os municípios, nas principais comunidades, para que a gente pudesse fazer um plano integrado. Esse é o plano que vai nortear as ações do Estado a partir de agora para gerações futuras. É um guia daquilo que a gente vê como desenvolvimento sustentável e alinhado com os objetivos da ONU e das políticas mais modernas”, afirmou o governador.
Estruturado em cinco eixos estratégicos, o plano articula o modelo industrial da Zona Franca de Manaus com a bioeconomia florestal, fomentando inovação tecnológica, diversificação produtiva e certificação de produtos da sociobiodiversidade.
Já a Política Estadual de Transição Energética (PETEN), elaborada pela Secretaria de Energia, Mineração e Gás (Semig), estabelece as bases legais para transformar a matriz energética do estado, reduzindo em até 50% o consumo de diesel nos sistemas isolados até 2030 e ampliando o uso de fontes limpas e renováveis. O documento também define metas para eliminar a pobreza energética, fortalecer a geração distribuída e garantir a inclusão social no acesso à energia.
A medida foi construída a partir de audiências públicas realizadas na capital e no interior, reunindo contribuições da sociedade civil, universidades, comunidades e representantes do setor produtivo. O plano orienta a criação de incentivos fiscais e creditícios para fontes renováveis e prevê a implementação do Programa Estadual de Transição Energética em até 180 dias, com revisão anual e transparência pública dos resultados.
Sustentabilidade em Manaus
Foto: Ecobarreiras instaladas em igarapés de Manaus/Antonio Pereira / Semcom
O prefeito de Manaus, David Almeida, participou do primeiro dia da COP30, destacando as iniciativas da capital voltadas à sustentabilidade e à preservação ambiental.
Ao apresentar avanços recentes, a autoridade citou iniciativas como o novo aterro sanitário público, projetado para produzir energia renovável a partir de biogás e geração fotovoltaica, reduzindo emissões e acelerando a transição energética local.
“Os municípios concentram as maiores cobranças e os menores orçamentos. Defendemos mecanismos que permitam às cidades amazônicas captar recursos e atrair capital privado para soluções baseadas na natureza”, reforçou.
Segundo o município, a capital amazonense preserva mais de 90% do território com vegetação nativa, ao mesmo tempo em que avança em infraestrutura sustentável. As ecobarreiras, tecnologia exclusiva da Prefeitura de Manaus, já retêm aproximadamente 300 toneladas de resíduos por mês nos igarapés, evitando que o lixo chegue ao rio Negro e contribuindo para a melhoria da qualidade da água.
Essas ações de sustentabilidade colocam Manaus em evidência, mostrando como é possível conciliar desenvolvimento urbano e preservação da floresta amazônica.
“Não apenas para conservação, mas para desenvolvimento de uma economia que valorize a conservação florestal (floresta em pé), com inclusão social, inovação e mercados verdes, como um ativo para o desenvolvimento sustentável”, pontuou o chefe do Departamento de Ciências Florestais da UFAM.
Governança climática
Foto: Conselheiro Júlio Pinheiro durante painel na COP30/Ascom TCMPA
Outra representação do Amazonas na COP30 foi o conselheiro do TCE-AM, Júlio Pinheiro, que participou ativamente como painelista, representando o Instituto Rui Barbosa (IRB) em uma das principais discussões do evento.
Com ampla experiência na área ambiental, Júlio Pinheiro preside o Comitê Técnico de Meio Ambiente e Sustentabilidade do IRB, responsável por coordenar a atuação dos Tribunais de Contas na fiscalização e acompanhamento de políticas públicas ambientais em todo o país.
Durante a COP30, o conselheiro apresentou uma visão integrada de governança climática, ressaltando que o enfrentamento e a adaptação às mudanças do clima dependem da cooperação entre União, estados, municípios e sociedade civil.
“A adaptação das cidades às mudanças climáticas é um processo coletivo. É fundamental envolver comunidades, gestores públicos e órgãos de controle para garantir que as políticas ambientais sejam justas, eficientes e transparentes”, destacou Pinheiro durante sua participação.
Ações concretas
Foto: Sergio Moraes/COP30
A COP30 ainda terá diversas discussões até o seu encerramento, mas já desperta expectativa sobre as ações concretas que podem surgir dessas conversas entre autoridades e pesquisadores. Para o Amazonas, espera-se que essas medidas tragam benefícios diretos à população local.
“Por ser realizada no coração da Amazônia, cria uma pressão e uma oportunidade única para que as políticas ambientais, e especialmente do estado do Amazonas, deixem o discurso e passem à prática. No entanto sabemos que a implementação de ações a partir de políticas ambientais requer orçamento, pessoal qualificado, infraestrutura e ampla discussão com a sociedade como um todo, sobretudo no estado com as dimensões do Amazonas, a prática requer muito mais do que discurso político”, finalizou Dr. Sérgio Gonçalves.
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