A bacia amazônica, a maior em água doce do planeta, está presente em nove países da América do Sul e enfrenta uma grave ameaça: a poluição por plástico. Segundo estudo publicado na Revista Ambio, o rio Amazonas é o segundo curso d’água mais poluído por plástico no mundo.
Essa contaminação compromete não só o ambiente aquático, mas também a fauna, a flora e os ecossistemas terrestres da região, colocando em risco sua biodiversidade única e afetando a saúde das populações ribeirinhas.
Antônio Vasconcelos, conhecido como “Toninho”, mora há 42 anos no bairro Colônia Antônio Aleixo e depende da pesca no lago local. Ele relata dificuldades para pescar devido à grande quantidade de lixo plástico nos rios que ficam presos nas redes de pesca chamadas malhadeiras. Toninho destaca que muitos plásticos se acumulam no fundo dos rios e nos igapós.
Em 2024, durante uma das secas mais severas já registradas na Bacia Amazônica, o Rio Negro atingiu sua menor marca em mais de 120 anos.O Lago do Aleixo ficou quase seco e os moradores tiveram que conviver com um forte odor causado pela contaminação local. Toninho relata que as águas ficaram impróprias para banho e muitos peixes morreram devido ao lixo acumulado.
O estudo científico realizado pelo laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) da Fiocruz Amazônia junto ao Instituto Mamirauá confirma esse cenário preocupante. A pesquisa aponta que o rio Amazonas contribui com cerca de 10% do plástico que chega aos oceanos.
Daniel Tregidgo, pesquisador do Instituto Mamirauá, explica que a bacia amazônica possui várias cidades grandes poluindo seus rios sem infraestrutura adequada para lidar com o lixo. Essa acumulação afeta diretamente os ecossistemas locais antes de chegar aos oceanos.
O estudo identificou macroplásticos (objetos maiores como garrafas PET), mesoplásticos (partículas entre 5 mm e 25 mm), microplásticos (menores que 5 mm) e nanoplásticos (menos de 1 micrômetro) nas águas negras da região amazônica – evidenciando uma contaminação ampla desde leste até oeste do bioma.
Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia, ressalta a dispersão quase worldwide desses fragmentos plásticos: eles foram encontrados até na composição dos ninhos de aves substituindo materiais naturais; além disso causam mortes em peixes-boi e aves pela ingestão desses resíduos maiores.Microplásticos também foram detectados em espécies terrestres como formigas amazônicas, pererecas e morcegos – mostrando impacto sobre toda cadeia alimentar local.
Quanto à saúde humana, Daniel Tregidgo alerta para os riscos dos nanoplásticos presentes na região: esses fragmentos podem penetrar células vivas tanto animais quanto humanas através da alimentação direta ou indireta via cadeia alimentar aquática ou terrestre.
A poluição tende a se intensificar durante as cheias dos rios quando resíduos plásticos são transportados pelas águas chegando às áreas urbanas próximas aos igarapés onde permanecem após o recuo das águas – afetando diretamente as comunidades ribeirinhas diariamente expostas ao problema.
No igarapé do Educandos – localizado próximo à capital Manaus -, há acúmulo visível de materiais plásticos descartados irregularmente junto com restos móveis e pneus; isso prejudica tanto o ecossistema quanto as condições sanitárias locais.Moradores relatam riscos aumentados durante cheias quando água contaminada vira esgoto aberto atraindo animais perigosos como cobras ou jacarés; crianças brincam entre resíduos cortantes sofrendo ferimentos frequentes além de doenças causadas pela exposição contínua ao lixo acumulado ali.
Na orla da manaus Moderna ocorre acúmulo crônico semelhante: milhares garrafas PETs misturadas com vidro quebrado latas sacolas pneus dificultam acesso às balsas atracadas no porto central; parte desse lixo vem pelos igarapés enquanto outra parte é descartada por passageiros irresponsáveis nas embarcações locais – agravando ainda mais essa situação ambiental crítica urbana
Além disso um lixão aberto localizado no vilarejo peruano Islândia despeja todos seus resíduos diretamente na floresta amazônica às margens dos rios banhando municípios brasileiros fronteiriços causando contaminação transfronteiriça das águas inclusive pelo aumento significativo coliformes fecais detectados pelas análises ambientais realizadas pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Como alternativa parcial para conter essa poluição estão sendo usadas ecobarreiras flutuantes instaladas estrategicamente nos igarapés urbanos manauaras; essas estruturas funcionam como peneiras gigantes retendo desde grandes pedaços até pequenos fragmentos sólidos evitando seu lançamento direto nos rios principais – retirando cerca de 300 toneladas mensais conforme dados oficiais municipais recentes
Apesar dessas ações pontuais serem importantes elas não resolvem integralmente o problema reforçando necessidade urgente por saneamento básico adequado aliado à educação ambiental contínua visando reduzir geração incorreta destes resíduos sólidos urbanos
A concessionária Águas de Manaus atua ampliando cobertura sanitária atualmente próxima aos 30% buscando alcançar meta nacional prevista para cobertura total até 2033 através implantação progressiva redes esgoto adaptadas inclusive áreas vulneráveis sobre palafitas garantindo menos despejo direto nos corpos hídricos regionais
Também são realizados monitoramentos específicos visando evitar contaminações químicas biológicas incluindo microplástico mesoplástico assegurando qualidade potabilidade água fornecida população mesmo diante desafios naturais peculiares características únicas das águas negras regionais
Por fim iniciativas sociais promovidas pela Secretaria Municipal De Limpeza Urbana reaproveitam garrafas PET recolhidas transformando-as artesanalmente gerando renda comunitária além conscientizar população sobre importância cuidar melhor meio ambiente urbano-ribeirinho manauara
Assim fica evidente que partículas plásticas presentes desde macro até nanoescala comprometem profundamente ecossistemas amazônicos impactando fauna flora comunidades humanas tradicionais exigindo respostas integradas multidisciplinares urgentes para preservar este patrimônio natural vital mundialmente reconhecido.


